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Efeitos do ultrassom de alta potência (ultracavitação) em seroma encapsulado

Fisioter Bras 2018;19(2):190-5

ARTIGO ORIGINAL Efeitos do ultrassom de alta potência (ultracavitação) em seroma encapsulado Effects of high-power ultrasound (ultracavitation) on encapsulated seroma

Rodrigo Marcel Valentim da Silva, Ft., M.Sc.*, Amanda Caroline Muñoz Costa, Ft.**, Leila Simone Medeiros Figueirêdo, Ft.**, Natiele Pereira Cavalcante, Ft.**, Patrícia Froes Meyer, Ft., D.Sc.***

*Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, Natal/RN,

**Universidade Potiguar, ***Docente da Universidade Potiguar (UnP)

Recebido em 2 de fevereiro de 2017; aceito em 12 de dezembro de 2017.

Endereço para correspondência: Rodrigo Marcel Valentim da Silva, Rua Nossa Senhora de Fátima, 312b, Alecrim, 59030080 Natal RN, E-mail: marcelvalentim@hotmail.com; Patrícia Froes Meyer: patricia.froesmeyer@gmail.com; Natiele Pereira Cavalcante: natielecavalcantefisio@gmail.com; Amanda Caroline Muñoz Costa: munozamanda@gmail.com; Leila Simone Medeiros Figueirêdo: leilamedeirosfisio@gmail.com

Resumo

Introdução: O seroma consiste em uma coleção líquida de características exudativas geralmente formado logo após cirurgias plásticas, devido ao espaço morto e acúmulo de líquido na região submetida ao procedimento cirúrgico. A alta concentração de energia fornecida pela ultracavitação favorece uma ruptura dos envoltórios de fibrose na região do seroma, bem como promovem a absorção e emulsão do líquido existente. Objetivo: Avaliar os efeitos da ultracavitação em pacientes com seroma encapsulado. Material e métodos: Trata-se de um estudo quase experimental. Cinco voluntários com diagnóstico de seroma foram submetidos ao tratamento de ultracavitação durante 7,5 minutos por ERA, potência de 30 Watts, 50% da potência emitida. A avaliação foi realizada através do exame de ultrassonografia, realizado antes e após o tratamento. Foram realizadas quatro sessões, sendo uma por semana. Resultados: Em todos os pacientes deste estudo foi verificada qualitativamente e quantitativamente uma redução do seroma encapsulado após o tratamento com a ultracavitação. Conclusão: A ultracavitação diminuiu as áreas de seroma encapsulado, constituindo uma possibilidade de tratamento não invasivo.

Palavras-chave: complicações pós-operatórias, cirurgia plástica, Fisioterapia, terapêutica.  

Abstract

Introduction: Seroma consists of a net collection of exudative features usually formed soon after plastic surgeries, due to the dead space and the accumulation of fluid in the region submitted to the surgical procedure. The high concentration of energy provided by ultracavitation favors a rupture of the fibrous sheaths in the seroma region, as well as promotes the absorption and emulsion of the existing liquid. Objective: To evaluate the effects of ultracavitation in patients with encapsulated seroma. Methods: This is a quasi-experimental study. Five volunteers diagnosed with seroma were submitted to ultracavitation for 7.5 minutes per ARR, 30 Watts power, 50% of emitted power. The evaluation was performed through ultrasonography (US), performed before and after treatment. Four sessions were held, one per week. Results: A reduction of the encapsulated seroma after treatment with ultracavitation was verified qualitatively and quantitatively in all patients in this study. Conclusion: Ultracavitation reduced the areas of encapsulated seroma, constituting a possibility of non-invasive treatment. Key-words: postoperative complications, surgery plastic, Physical Therapy, therapeutics.  

Introdução

O seroma consiste em uma coleção líquida de características exudativas geralmente formado logo após cirurgias plásticas, devido ao espaço morto e o acúmulo de líquido na região submetida ao procedimento cirúrgico [1]. A ocorrência do seroma é determinada por vários fatores, como: tipo e tempo de cirurgia, uso ou não de dreno, repouso, uso de cintas após a cirurgia, entre outros. O excesso de líquido no seroma pode levar a um aumento de pressão local, podendo ocasionar o aparecimento de necroses, infecções, deiscências, e até um aspecto antiestético. A manutenção do seroma pode provocar o surgimento de uma cápsula fibrosa ao seu redor, o que causa um processo de contração e que deforma a região

[2,3].  

A fisioterapia têm utilizado diferentes recursos para promoção do tratamento do seroma. Dentre esses, destacamos o uso do ultrassom, em uma modalidade conhecida como ultracavitação, a qual consiste em um ultrassom de alta potência. Sugere-se que as ondas mecânicas com o ultrassom de alta intensidade geram um efeito de cavitação instável, promovendo a implosão de células ao redor [4-6]. O mecanismo que sugere o uso de ultracavitação no tratamento de seromas está baseado no efeito tixotrópico. Nesse caso, o conteúdo do seroma trata-se de um gel que necessita ser absorvido e através deste efeito tixotrópico provavelmente obtém-se esta ação. O uso de terapias com ultracavitação tem encontrado referência para a redução da viscosidade e de liquefação de géis, seu efeito inicial inclui a formação eficiente de emulsões que combinam as propriedades mecânicas de cavitação acústica com mecanismos de dispersão e de coagulação [7].  

A alta concentração de energia fornecida pela ultracavitação favorece uma ruptura dos envoltórios de fibrose na região do seroma, bem como promovem a absorção e emulsão do líquido existente [8,9]. Existe uma carência de pesquisas que discorram sobre outros efeitos da ultracavitação e sua aplicabilidade em pacientes com seroma encapsulado após cirurgia plástica. Diante do exposto o objetivo deste estudo é avaliar os efeitos da ultracavitação em pacientes com seroma encapsulado.

Material e métodos

Trata-se de estudo quase-experimental, realizado na Clínica Biofisio, Natal/RN. Os voluntários foram convidados a participar voluntariamente do estudo, e foram incluídos aqueles que aceitaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Potiguar, UnP, com parecer de número 228/2010.  

Foram avaliados cinco pacientes, que deveriam ter sido submetidos a uma intervenção cirúrgica plástica de abdominoplastia associada com lipoaspiração e apresentaram como complicação seroma encapsulado devidamente diagnosticado por ultrassonografia. Foram excluídos os voluntários portadores de qualquer tipo de doença hepática (contraindicado para uso da ultracavitação) ou não comparecimento às avaliações e ao tratamento em todas as datas agendadas.

Inicialmente, todos os voluntários foram avaliados através do Protocolo de Avaliação dos Níveis de Fibrose Cicatricial (PANFIC), no qual se avalia o nível de fibrose dos indivíduos e seu estado de pós-operatório. Após esta avaliação, foi realizada a ultrassonografia (US) na Clínica Serviço de Imagem Potiguar – SIP. O aparelho utilizado foi da marca Medison Accuvix V 10 com transdutor linear, eletromultifrequencial – variando de 6 a 12 Hz, para mensuração do tecido adiposo e dos septos fibrosos. Foi realizada a US antes e após a aplicação da ultracavitação.  

Esse exame permitiu medir a distância entre a pele e a gordura e entre a gordura e o músculo por meio de ondas sonoras que são transmitidas através do tecido. Para assegurar a otimização da energia ultrassônica, os pacientes foram posicionados de acordo com as recomendações do fabricante.  Delimitou-se a área a ser investigada com o paciente em postura ortostática. A área demarcada foi de 10 cm2, na região abdominal, em que se verificava a presença do seroma. O transdutor foi posicionado de forma pendente, sem fazer pressão na pele e deslocado sobre a área tratada [18]. O exame avaliou o estado do tecido subcutâneo, presença de seroma encapsulado e fibrose, além de mensurar o diâmetro do seroma horizontal e vertical, na região abdominal.

Após a avaliação da ultrassonografia, os voluntários foram tratados com o aparelho de ultracavitação Liposonic High Power Ultrasound, Meditea, Argentina. O tratamento seguiu os seguintes parâmetros: 15 minutos por área tratada (7,5 minutos por cada ERA), potência de 30 Watts, 50% da potência emitida, uma sessão realizada por semana. Após 8 sessões, foi feita uma reavaliação similar à avaliação inicial. A área tratada correspondia à região abdominal com presença de seroma.

Foi realizada uma análise descritiva com a apresentação dos valores de média e desvio padrão das medidas da área dos seroma. A análise inferencial foi utilizando o programa SPSS 22.0 (Statistical Package for the Social Science – Version 22.0). Para a comparação entre a avaliação inicial e final, foi utilizado o teste t-pareado. Foi adotado o nível de significância de 5% (p < 0,05).

Resultados

Os voluntários deste estudo foram numerados por ordem de início na realização dos procedimentos experimentais: V1 (Voluntário 1 ) à  V5 ( Voluntário 5). Havia 04 voluntários do sexo feminino e 01 do sexo masculino, apresentando idade média de 36,7 anos. Todos haviam realizado tratamento de pós-operatório de cirurgia de abdominoplastia anteriormente (PO) e apresentavam classificação N2 do PANFIC da fibrose avaliada. O diagnóstico de seroma encapsulado foi dado pelo médico ultrassonografista após o exame do tecido fibroso.

O V1 realizou cirurgia de abdominoplastia e lipoaspiração há aproximadamente 03 meses e apresentava fibrose na região supra-abdominal. Já havia sido realizado tratamento PO de fisioterapia que constou do uso do ultrassom, drenagem linfática manual e massoterapia (totalizando 35 sessões). Ultrassom, drenagem linfática manual e massagens (35 sessões), mas havia uma fibrose persistente e não estava satisfeita com o resultado (sic).  A comparação dos resultados dos exames de US da V1 antes e após a intervenção com ultracavitação, estão apresentados na figura 1.


Figura 1 – A: Imagens de US da região abdominal antes. B: Depois do tratamento com ultracavitação na voluntária 1.  

O V2 realizou cirurgia de lipoaspiração associada a abdominoplastia há aproximadamente 02 meses e apresentava fibrose na região supra-abdominal. Já havia realizado tratamento PO de fisioterapia em que utilizou o ultrassom, radiofrequência, drenagem linfática manual (30 sessões), mas havia uma fibrose persistente e também não estava satisfeita com o resultado (sic). A comparação dos resultados dos exames de US da V2, antes e após a intervenção com ultracavitação, estão apresentados na figura 2.

Figura 2 – A: Imagens de US da região abdominal antes B: depois do tratamento com ultracavitação na voluntária 2.  

O V3 realizou cirurgia de lipoaspiração há aproximadamente 55 dias e apresentava fibrose na região infra-abdominal. Já havia realizado tratamento PO de fisioterapia que constou de ultrassom, radiofrequência, drenagem linfática manual, endermologia (20 sessões), mas havia uma fibrose persistente e bastante incomoda esteticamente, resistente ao tratamento realizado (sic). A comparação dos resultados dos exames de US da V3, antes e após a intervenção com ultracavitação, estão apresentados na figura 3.

Figura 3A: Imagens de US da região abdominal antes B: depois do tratamento com ultracavitação na voluntária 3.

O V4 realizou cirurgia de lipoaspiração, após 01 ano realizou uma cirurgia de abdominoplastia associada à lipoaspiração. Em ambos os períodos de pós-operatório observou-se a formação de seroma e foram necessárias várias retiradas pelo médico com seringa. No momento que foi avaliada por este estudo, apresentava-se com 02 meses de pósoperatório e apresentava fibrose na região infra-abdominal. Já havia realizado tratamento PO de fisioterapia que constou de ultrassom, radiofrequência, drenagem linfática manual (25 sessões), mas havia uma fibrose persistente antiestética, resistente ao tratamento realizado (sic). A comparação dos resultados dos exames de US da V4 antes e após a intervenção com ultracavitação, estão apresentados na figura 4.

Figura 4A: Imagens de US da região abdominal antes B: depois do tratamento com ultracavitação na voluntária 4.

O V5 realizou cirurgia de lipoaspiração há aproximadamente 70 dias e apresentava fibrose na região lateral de tronco, próximo a axila. Já havia realizado tratamento PO de fisioterapia que constou de ultrassom, drenagem linfática manual, endermologia (35 sessões), mas havia uma fibrose persistente e maleável, resistente ao tratamento realizado (sic). A comparação dos resultados dos exames de US da V5, antes e após a intervenção com ultracavitação, estão apresentados na figura 5.

Figura 5A: Imagens de US da região abdominal antes B: Depois do tratamento com ultracavitação na voluntária 5.

A tabela I apresenta as medidas da área medidas no exame de ultrassonografia antes do tratamento que revelavam seromas encapsulados, com o seu valor após o tratamento com ultracavitação. Observou-se uma redução significativa da área do seroma com p < 0,01.

Tabela ITamanho das lesões antes e após o uso da ultracavitação através da ultrassonografia (média de três aferições considerando comprimento e largura da lesão).

Tamanho da Lesão antes do TTT (cm) Tamanho da Lesão depois do TTT ( cm)
Voluntária 1 6,6 x 5,5  5,5 x 3,9
Voluntária 2 5,8 x 2,2 5,4 x  1,8
Voluntária 3 8,6 x 1,8  8,2 x 0,2
Voluntária 4
Voluntário 5
6,8 x 4,2 4,5 x 2,7 3,4 x  1,8 2,8 x 1,3
Média  6,37 x 3,28 5,06 x 1,8
Teste T pareado 4,62 0,01*
*Existiu diferença significativa com p<0,05.       

Discussão

Em todos os pacientes desse estudo foi verificada qualitativamente e quantitativamente uma redução do seroma encapsulado após o tratamento com a ultracavitação. Silva et al. [10] realizaram um estudo com aplicação da ultracavitação na redução da adiposidade localizada e encontraram redução de medidas significativas na região abdominal. Acredita-se que estes resultados ocorreram porque a UC promove a formação de bolha de maneira focal no tecido, promovendo à lise celular e danificando tecidos. Essa destruição do tecido é feita de maneira seletiva, sem danos aos tecidos adjacentes. A manutenção da integridade dos vasos e nervos permitindo uma melhor absorção da coleção de líquidos retidos na região do seroma, dispersando-os pelo espaço intersticial [9-11].

Segundo Ding et al. [12] e Rangraz et al. [13], a fibrose acumulada no tecido é reduzida pela ação mecânica das ondas ultrassônicas que quebram as pontes de ligações das fibras colágenas em sua constituição proteica, associado ao efeito mecânico a concentração energética promove um efeito térmico que favorece a desnaturação proteica, consequentemente, das fibras colágenas que formam a camada de fibrose que encapsula o líquido presente no seroma, justificando dessa forma, a dissolução dessa complicação encontrada nos nossos resultados.

As limitações desse estudo consistem no baixo número amostral, dificultando assim a inferência dos resultados obtidos. Sugere-se a realização de novos estudos, com um número maior de voluntário e com outros parâmetros de aplicação.  

Conclusão

Portanto conclui-se que o tratamento com ultracavitação diminuiu as áreas das lesões de seroma encapsulado decorrentes de complicações cirúrgicas estéticas, evidenciados por meio de exames ultrassonográficos.

Referências

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Rangraz P, Behnam H, Tavakkoli J. Nakagami imaging for detecting thermal lesions induced by high-intensity focused ultrasound in tissue. Proc Inst Mech Eng H 2014;228(1):19-26.

Imagem Corporal e Características de Personalidade de Mulheres Solicitantes de Cirurgia Plástica Estética

Imagem Corporal e Características de Personalidade de Mulheres Solicitantes de Cirurgia Plástica Estética

Body Image and Personality Traits of Women Seeking Aesthetic Plastic Surgery

Ana Beatriz Sante[1] & Sonia Regina Pasian*

Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil


[1] Endereço para correspondência: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Departamento de Psicologia. Av. Bandeirantes, 3900, Monte

Alegre, Ribeirão Preto, SP, Brasil, CEP 14040-901. Tel.: (16) 3602-3785; Fax: (16) 3602-4835. E-mails: a_sante@hotmail.com e srpasian@ffclrp.usp.br

Resumo

As motivações psíquicas associadas à crescente busca de Cirurgia Plástica Estética (CPE) têm sido pesquisadas, porém sem resultados conclusivos. Assim, objetivou-se investigar características de personalidade e imagem corporal de mulheres que buscam CPE, avaliando-se, individualmente, 37 mulheres solicitantes de mamoplastia adicional e/ou lipoaspiração (Grupo 1) e 41 mulheres sem procura de CPE (Grupo 2), pela Escala de Satisfação com Imagem Corporal (ESIC) e pelas Escalas de Personalidade de Comrey (CPS). Comparando-se seus resultados (Student t-test, p < 0,05), identificaram-se diferenças significativas entre os grupos no Fator 1 da ESIC (satisfação com própria aparência) e nas Escalas T (Confiança X Atitude Defensiva) e M (Masculinidade X Feminilidade) da CPS, sugerindo em G1 maior insatisfação com a própria aparência corporal, elevada atitude defensiva e maior sensibilidade afetiva.

Palavras-chave: Cirurgia Plástica; Estética; Personalidade; Imagem Corporal; Mulheres.

Abstract

Internal motivations associated with the increasing search for Aesthetic Plastic Surgery (APS) have been previously investigated without conclusive results. Our objective was to investigate personality traits and body image satisfaction of women seeking APS by individual evaluation of 37 women interested in breast augmentation (mammoplasty) and/or liposuction (Group 1), and 41 women not seeking APS (Group 2). It was applied the Body Image Satisfaction Scale (BISS) and Comrey Personality Scales (CPS). Statistical analysis (Student t-test, p < .05) has shown significant difference between groups for Factor 1 (satisfaction with self appearance) of BISS as well as for CPS T (Confidence vs. Defensive Attitude) and M (Masculinity vs. Femininity) scales. It suggests that women in G1 are less satisfied with their body image, have increased defensive attitude and greater affective sensibility.

Keywords: Plastic Surgery; Aesthetic; Personality; Body Image; Women.

A área da Cirurgia Plástica Estética (CPE) dispõe de inúmeros procedimentos para melhorar a forma e a aparência das diferentes partes do corpo humano. Alguns dos procedimentos desta área médica recebem destaque pela elevada procura e larga realização internacional e em nosso país, favorecidos pela expectativa de resultados que aproximem a aparência do indivíduo ao padrão de beleza em voga na sociedade contemporânea. Uma pesquisa da Datafolha para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica evidenciou que, no período de Setembro de 2007 a Agosto de 2008, foram realizadas 457 mil cirurgias plásticas de natureza estética no Brasil, sendo as mais realizadas Mamoplastia Adicional (21%) e Lipoaspiração (20%; Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica [SBCP], 2009). Diante dos dados estatísticos que mostram o elevado número de pessoas que buscam algum tipo de CPE, surge a questão de quais seriam os motivos implícitos nesta busca de mudanças físicas: elementos externos e expectativas sócio-culturais de ideais de beleza humana ou seriam as características afetivas dos indivíduos? Certamente o processo é multideterminado e complexo, porém há que se levar em conta as evidências empíricas apontando elevado grau de insatisfação dos indivíduos com a própria aparência. Por exemplo, Finger (2003) cita um estudo brasileiro sobre a avaliação da auto-imagem de indivíduos diante de seu peso normal, no qual foi encontrado que 50% dos entrevistados estavam insatisfeitos com seu corpo e que 67% das mulheres e 28% dos homens desejavam se submeter a alguma CPE.

Em outra pesquisa brasileira, realizada em Junho de 2004 por um instituto de pesquisas de mercado de São Paulo (Valladares, Moherdaui, Jaggi, & Brasil, 2004), 12.477 pessoas foram entrevistadas. Os resultados deste trabalho apontaram que 90% das mulheres referiram desejar mudanças no próprio corpo, almejando modificações no abdômen (28%) e nos seios (20%). Entre os 5% que já tinham feito plástica, 90% desejavam passar por outra e, dentre os que nunca haviam se submetido a CPE, 30% declararam que ainda pretendiam enfrentar o bisturi.

Aliado a este retrato da demanda por CPE no Brasil, há que se considerar também a grande valorização da atratividade física nas culturas ocidentais, como apontado por Jackson (2002). Esta ênfase pode influenciar o modo dos indivíduos pensarem e se comportarem diante de pessoas com variadas qualidades de aparência física. Considerando que as mensagens culturais recebidas sobre a atratividade física são internalizadas e servem como ideais pessoais, elas podem afetar de modo adverso as auto-avaliações (e as satisfações) em relação à própria aparência física, como argumentado por Jackson (2002), Sarwer e Crerand (2004) e Strahan, Wilson, Cressman e Buote (2006). Ainda de acordo com estes autores, quanto mais discrepante a auto-avaliação em relação ao ideal cultural, maior a insatisfação com a aparência. Esta, por sua vez, pode prejudicar a imagem corporal do indivíduo, proporcionando efeitos negativos para sua saúde mental e física.

Depreende-se, portanto, a relevância da imagem que o indivíduo desenvolve sobre seu corpo, com direto efeito em seus relacionamentos (consigo e com os outros). O estudo da imagem corporal é bastante complexo e com diversas abordagens teóricas, podendo-se destacar a conceituação proposta pioneiramente por Schilder (1935/ 1980, p. 11). Em suas palavras:

Entende-se por imagem do corpo humano a figuração de nosso corpo formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós (. . .). O esquema do corpo é a imagem tridimensional que todos têm de si mesmos.

Outro estudioso de destaque internacional sobre a imagem corporal é Slade (1994) que argumenta que ela está composta por dois elementos principais: o “componente perceptual” e o “componente atitudinal”. O primeiro diz respeito à precisão com que o indivíduo estima o tamanho e a forma de seu corpo, enquanto o segundo diz respeito às atitudes e aos sentimentos que o indivíduo tem em relação ao próprio corpo. Para este estudioso, portanto, a Imagem Corporal corresponderia a uma “flutuante representação mental do tamanho, contorno e aparência do corpo que é influenciada por uma variedade de fatores históricos, culturais, sociais, individuais e biológicos, que operam variavelmente ao longo do tempo” (Slade, 1994, p. 502). No atual trabalho, adotou-se esta linha conceitual de Schilder (1935/1980) e de Slade (1994) para compreensão da imagem corporal.

Ao discorrer sobre o conceito de imagem corporal, Pitanguy (1992) o considera primordial na compreensão da busca de Cirurgia Plástica, sendo importante componente da identidade pessoal. Argumenta que a busca de melhorias na própria imagem e nas formas de manutenção da integridade do indivíduo funcionam como poderosas fontes de motivação interna humana, associando a estes fatores o desejo disparador da busca de procedimentos cirúrgicos estéticos.

Uma revisão sobre o histórico das pesquisas realizadas, no século XX, sobre características psicológicas associadas à busca de CPE foi desenvolvida por Sarwer, Wadden, Pertschuck e Whitaker (1998). Verificaram que a partir dos anos 1940 e 1950 a literatura da área voltouse a avaliações psiquiátricas formais destes pacientes, conduzidas, predominantemente, com base no paradigma psicanalítico corrente na psiquiatria americana da época. Geralmente caracterizavam os pacientes que solicitavam CPE como altamente neuróticos e/ou narcisistas, sendo as queixas sobre a própria aparência interpretadas como sinais de conflitos intrapsíquicos transformados em preocupações somáticas.

Estes mesmos autores verificaram ainda que, especialmente nas décadas de 1960 a 1980, muitas pesquisas científicas foram desenvolvidas por meio de entrevistas clínicas que, por sua vez, identificavam significativa taxa de psicopatologia nestes pacientes, chegando a 70% de diagnósticos de algum transtorno psiquiátrico. Entretanto, Sarwer et al. (1998) apontaram que esta estratégia metodológica limitou o grau de confiança depositado em tais estudos, pois não utilizaram procedimentos padronizados de investigação científica, não descreveram a natureza da entrevista clínica realizada e critérios diagnósticos uniformes não foram utilizados. Somado a isso, a maioria destas pesquisas não incluía um grupo controle ou de comparação, resultando na impossibilidade de se avaliar se o nível relatado de psicopatologia era maior do que de pacientes que se submeteram a outros procedimentos médicos ou cirúrgicos. Estes autores argumentaram que os resultados das investigações científicas que recorreram ao uso de testes objetivos para as variáveis em foco tenderam a ser mais confiáveis do que os derivados exclusivamente de entrevistas clínicas. Nestes estudos, onde métodos padronizados de investigação psicológica foram utilizados, emergiram índices menores de transtornos psicológicos nos solicitantes de CPE.

Ao focalizar estudos científicos brasileiros nesta área de pesquisa, produzidos a partir da década de 1990, percebe-se poucos trabalhos sobre o tema, podendo-se destacar o estudo de Ribeiro, Ferreira, Tuma e Bonamichi (1992). Eles avaliaram 53 mulheres em pré-operatório de Mamoplastia Reducional por meio de entrevista e técnicas de avaliação psicológica. Seus resultados sugeriram que as mulheres que buscavam redução de mamas sinalizaram maior ansiedade, fobia, necessidade de controle, meticulosidade, perfeccionismo, labilidade afetiva, necessidade de ser o centro das atenções e excessiva dependência dos outros. O mesmo tipo de resultados foi encontrado em estudo com mulheres que procuraram Ritidoplastia, realizado por Ribeiro, Ferreira, Tuma e Jacquemin (1995).

Alargando a pesquisa bibliográfica para além dos estudos brasileiros, o trabalho de Özgür, Tuncali e Gürsu (1998), na Turquia, merece a devida atenção. Eles partiram da hipótese de que indivíduos que solicitam CPE apresentariam maior índice de distorção da imagem corporal, baixa auto-estima e reduzida satisfação com a vida quando comparados à população ‘normal’. Compararam pacientes de diferentes tipos de CPE com pacientes de Cirurgia Plástica Reparadora (CPR), tendo ainda um grupo controle (não pacientes). Para a comparação destes três grupos utilizaram um questionário sócio-demográfico e escalas auto-aplicáveis que avaliavam a satisfação com a vida, a auto-estima e a percepção da imagem corporal. Seus resultados não corroboraram as hipóteses iniciais, identificando inexistência de significativa diferença estatística entre seus pacientes (grupo CPE) e os outros grupos estudados (grupo CPR e grupo controle) em todas as variáveis consideradas.

O tema também foi pesquisado no Japão por Ishigooka et al. (1998), focalizando possível presença de transtornos psiquiátricos em geral em pacientes que procuraram CPE. Encontraram que 47,7% dos pacientes foram categorizados como tendo um transtorno psiquiátrico de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), com inadequação no ajustamento social em 56% dos participantes. Argumentaram, neste trabalho, que a relação entre preocupação excessiva com aparência física e pobre funcionamento social permanece incerta, porém hipotetizaram que a procura da CPE pareceu associada a desejo inconsciente de solucionar conflitos em relacionamentos interpessoais.

Pesquisando também sintomas psiquiátricos, índices de depressão, aspectos perceptivos, cognitivos e atitudinais em relação à imagem corporal em candidatos a diversos tipos de CPE, Vargel e Ulusahin (2001), na Turquia, compararam estes pacientes com pessoas que se submeteriam a pequenas cirurgias (em geral, cirurgias na pele). Utilizaram basicamente instrumentos de auto-relato, acoplados a uma entrevista posterior para avaliar a possível presença do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). Seus achados apontaram que os pacientes de CPE não diferiram do grupo controle em termos de psicopatologia, a não ser por quatro casos (da amostra de 20 pacientes), que preencheram critérios diagnósticos para TDC.

Ao recorrer a testes psicométricos específicos, Meningaud et al. (2001) na França, buscaram caracterizar aspectos de personalidade de candidatos de CPE (região da face), examinando também a importância de fatores que podem contribuir para a vulnerabilidade psicológica nestes pacientes. Utilizaram uma entrevista estruturada e escalas de avaliação de depressão, de medida de pensamentos positivos ou inibitórios no contexto das interações sociais e, finalmente, de qualidade de vida, considerando os padrões normativos de cada instrumento como seu próprio grupo controle (no processo de interpretação dos resultados). Encontraram dados sugestivos de que pacientes de CPE apresentaram maiores índices de depressão e de ansiedade social, preocupando-se bastante com a própria aparência e com o que os outros pensam sobre sua aparência.

Na mesma linha investigativa das características dos pacientes de CPE, Babuccu, Latifoglu, Atabay, Oral e Cosan (2003), na Turquia, utilizaram a técnica do MMPI para comparar pacientes no pré-operatório para rinoplastia em relação a um grupo controle. Os solicitantes de rinoplastia apresentaram maior número de escores anormais de ‘hipomania’ e de ‘paranóia’ no MMPI. Os autores exploraram, com mais detalhe, específicas marcas de personalidade para mulheres e para homens deste grupo de pacientes. As mulheres apresentaram-se mais egocêntricas, infantis/imaturas, hiperativas, impulsivas, competitivas, reativas, perfeccionistas sobre si mesmas, falantes e emocionalmente superficiais. O conjunto das evidências apontou que pacientes em pré-operatório de CPE sinalizaram características de fragilidade no funcionamento egóico, alto nível de energia e sensibilidade exacerbada. Apesar dos resultados mostrarem que os solicitantes de rinoplastia fogem um pouco da média no MMPI, advertiram que não se pode afirmar, por meio desta técnica, que esses pacientes apresentaram mais características psicopatológicas, o que deveria ser examinado por outras estratégias investigativas.

Por sua vez, Alagöz et al. (2003) focalizaram o estudo da imagem corporal, na Turquia, investigando como pacientes solicitantes de qualquer tipo de CPE se avaliavam em relação a imagem corporal, auto-estima e atitude alimentar por meio de escalas objetivas. Seu grupo de avaliação obteve altas pontuações na escala de autoestima, indicando que os pacientes que procuram CPE têm uma orientação positiva sobre si mesmos e sobre seu valor pessoal. Também encontraram baixos escores na escala de satisfação com o corpo que, em conjunto com pontuações maiores na escala de auto-estima, indicam, de acordo com os autores, adequada auto-representação dos pacientes sobre sua aparência externa e sobre a percepção de seus corpos.

Poder-se-ia apontar, de maneira geral, que, apesar dos estudos realizados entre 1960 e 1980 resultarem em evidências de altos índices de psicopatologia e transtorno da imagem corporal entre os pacientes que procuravam CPE, atualmente predominam evidências empíricas de que são indivíduos saudáveis, satisfeitos com sua auto-estima no geral. Depreende-se, portanto, que os resultados existentes da investigação científica nesta área não são unívocos em suas hipóteses interpretativas, parecendo, em alguns casos, até contraditórios, como anteriormente apontado.

Há uma tendência atual em considerar que os indivíduos buscariam, por meio da CPE, reduzir uma possível inconsistência entre sua auto-imagem global e uma autoavaliação negativa sobre partes corporais em específico, diante das quais se encontrariam insatisfeitos (Mélega, 2002; Vargel & Ulusahin, 2001). Na verdade, novas investigações fazem-se necessárias nesta área, sobretudo pela importância da avaliação dos aspectos psicológicos de tais pacientes no momento do pré-operatório, visto que eventuais psicopatologias poderiam ser detectadas e previamente tratadas para se evitar sofrimentos desnecessários neste processo (Ferraro, Rossano, & D´Andrea, 2005). As características de personalidade e a imagem corporal mostram-se, portanto, como variáveis relevantes a serem consideradas neste complexo processo da CPE, parecendo envolver, nos indivíduos a ela submetidos, uma busca de maiores níveis de satisfação pessoal com o próprio corpo e consigo mesmo, conforme as evidências atuais da literatura científica da área. Desta maneira, conhecer características internas dos solicitantes de CPE poderia vir a otimizar os alcances deste tipo de procedimento médico, eventualmente poupando infrutíferos desgastes pessoais e profissionais. Nessa direção, a utilização de técnicas de avaliação psicológica mostrase como recurso propício à investigação destes aspectos, oferecendo instrumentos padronizados, válidos e precisos para a compreensão das características psíquicas. A partir dos elementos apresentados, o presente trabalho teve por objetivo investigar características de personalidade e de satisfação com a imagem corporal, por meio de instrumentos de exame psicológico, em mulheres que buscavam CPE comparativamente a mulheres não solicitantes destes procedimentos.

Método

Trata-se de estudo transversal, de natureza descritiva e comparativa, caracterizando-se como estudo de casocontrole.

Participantes

Participaram do estudo mulheres que solicitaram CPE no Ambulatório de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP). Neste serviço terciário de saúde, os pacientes somente são atendidos após encaminhamento formal da rede básica de saúde do município. Passam, a seguir, por avaliação médica onde são verificados os motivos da procura de cirurgia plástica, as condições de saúde física e emocional e os objetivos pretendidos com a cirurgia, selecionando-se os casos elegíveis para efetivação dos procedimentos cirúrgicos. Dada a quantidade de solicitações maior que a possibilidade real de atendimento dos casos, estes pacientes ficam no aguardo de vaga para realização da CPE, compondo uma fila de espera (em ordem cronológica da solicitação), que resulta em alguns meses de intervalo entre a avaliação inicial e o efetivo início dos cuidados médicos necessários em cada caso. O paciente não tem nenhum custo para o tratamento em si, porém ele próprio arca com a aquisição de próteses cirúrgicas eletivas (por exemplo, na Mamoplastia Adicional). Dentre o grupo de mulheres com idade entre 18 e 50 anos, em espera por Lipoaspiração ou Mamoplastia Adicional nos anos de 2005 e 2006, foram selecionadas para compor a presente amostra aquelas que: (a) não tinham experiência prévia com estes tipos de cirurgia plástica e nem deveriam estar em espera de outro procedimento cirúrgico; (b) referiam ausência de tratamento psiquiátrico no último ano de vida; (c) confirmavam (em contato inicial) sua motivação para se submeterem ao procedimento médico (Lipoaspiração ou Mamoplastia Adicional) pelo qual aguardavam no serviço de referência estudado. Foram inicialmente contatadas 68 mulheres, sendo que 46 aceitaram o convite para a participação no estudo, resultando numa amostra de 37 casos que preencheram os critérios de seleção adotados, compondo o Grupo Clínico (Grupo 1 – G1).

Um segundo grupo de mulheres foi composto para funcionar como Grupo de Comparação (Grupo 2 – G2) dos resultados deste estudo, considerando-se os objetivos propostos, sendo constituído pelos mesmos critérios de seleção do Grupo 1, exceto pelo fato de suas integrantes não se encontrarem em fila de espera para CPE e por não relatarem, no momento da pesquisa, qualquer solicitação de procedimentos cirúrgicos estéticos. As mulheres de G2 possuíam semelhanças ao G1 em características etárias, educacionais e sócio-econômicas, sendo selecionadas por conveniência (dentre profissionais do hospital onde o estudo foi sediado ou por indicação das próprias voluntárias de G1).

Dessa maneira, ao final das avaliações o Grupo Clínico (Grupo 1) ficou composto por 37 mulheres e o Grupo Comparação (Grupo 2), por 41 mulheres, totalizando 78 participantes nesta pesquisa. A caracterização destes dois grupos de mulheres, em termos de aspectos sócio-demográficos, encontra-se na Tabela 1.

Em termos etários, G1 apresentou média de 30,1 anos (DP = 7,9), enquanto G2 teve média de 31,2 anos (DP = 8,6), ou seja, características etárias semelhantes. Em ambos os grupos houve predomínio de ausência de relacionamento conjugal estável, sendo prioritariamente solteiras. As participantes dos dois grupos apresentaram alto nível de escolaridade, tendo, no mínimo, segundo grau completo. De acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2000), as mulheres de G1 e G2 possuíam padrão sócio-econômico variando entre médio e alto, estando equilibradamente distribuídas nas classes A2, B1, B2 e C.

As participantes foram ainda classificadas em função de seu Índice de Massa Corporal (IMC), calculado com base nas informações obtidas sobre sua altura e seu peso no momento da avaliação (IMC = Peso/Altura2), de acordo com as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998). O IMC médio das participantes de G1 foi de 21,8 (DP = 3,2), enquanto em G2 foi de 22,2 (DP = 3,2), considerados dentro da faixa de peso normal.

A comparação estatística das características sóciodemográficas (variáveis categóricas) dos Grupos 1 e 2 foi realizada por meio do teste do Qui-quadrado (p  < 0,05) e evidenciou similaridade entre as mesmas, inexistindo diferenças significativas entre G1 e G2. Dessa maneira, a comparação das características sóciodemográficas entre os Grupos 1 e 2 evidenciou equivalência entre os mesmos no que tange às variáveis consideradas relevantes para o presente estudo, tornando-os comparáveis nas demais variáveis em foco, ou seja, os resultados nas técnicas de avaliação psicológica.

Instrumentos

A comparação estatística das características sóciodemográficas (variáveis categóricas) dos Grupos 1 e 2 foi realizada por meio do teste do Qui-quadrado o (p < 0,05) e evidenciou similaridade entre as mesmas, inexistindo diferenças significativas entre G1 e G2.

Dessa maneira, a comparação das características sóciodemográficas entre os Grupos 1 e 2 evidenciou equivalência entre os mesmos no que tange às variáveis consideradas relevantes para o presente estudo, tornando-os comparáveis nas demais variáveis em foco, ou seja, os resultados nas técnicas de avaliação psicológica. Instrumentos Para o presente trabalho, foram utilizados instrumentos de avaliação psicológica (entrevista e escalas), focalizando a satisfação com a imagem corporal e características de personalidade de pessoas que buscam CPE, como se seguem: Entrevista Semi-Estruturada. Roteiro com questões para caracterização sócio-demográfica das participantes (adaptado de Mélega, 2002; Özgür et al., 1998). Escalas de Personalidade de Comrey ([CPS], Costa, 2003). Esse instrumento objetivo visa avaliar quantitativa e qualitativamente aspectos da personalidade. A versão revisada da CPS para o Brasil (Costa, 2003) é composta de 100 afirmações que devem ser respondidas em uma escala do tipo Likert, com pontos variando de 1 (Nunca/Certamente Não) a 7 (Sempre/Certamente Sim). Avalia oito dimensões de personalidade a partir de oito escalas com dez itens cada uma, a saber: Escala T (Confiança X Atitude Defensiva), Escala O (Ordem X Falta de Compulsão), Escala C (Conformidade Social X Rebeldia), Escala A (Atividade X Passividade), Escala S (Estabilidade Emocional X Neuroticismo), Escala E (Extroversão X Introversão), Escala M (Masculinidade X Feminilidade) e Escala P (Empatia X Egocentrismo). Possui ainda duas escalas de validade dos resultados: Escala de Validade (Escala V); Escala de Tendenciosidade na Resposta (Escala R). É um instrumento de fácil compreensão e prática aplicação, reconhecido nacional e internacionalmente dentro do âmbito da avaliação psicológica, com indicadores técnicos de adequada precisão e validade. Por estes motivos este instrumento objetivo foi selecionado para auxiliar na compreensão de aspectos de personalidade associados à busca de CPE. Escala de Satisfação com a Imagem Corporal (ESIC). Versão elaborada e validada por Ferreira e Leite (2002) para o contexto brasileiro. Este instrumento é composto por 25 itens distribuídos em dois fatores avaliativos (“Satisfação com a própria aparência” e “Preocupação com o peso”), respondidos por meio de uma escala do tipo Likert com cinco pontos (onde o ponto 1 refere-se a Discordo Totalmente e, o ponto 5, Concordo Totalmente). As escalas são corrigidas no sentido da satisfação com o próprio corpo, e, assim, quanto maior o resultado, menor a preocupação com o peso e mais positiva ou maior a satisfação com a própria imagem corporal. Por ser de fácil compreensão e aplicação, por possibilitar a comparação dos resultados com amostras brasileiras recentemente estudadas e por possuir indicadores técnicos adequados, foi escolhida para o presente trabalho pela possibilidade de contribuir com informações específicas acerca de fatores relacionados à imagem corporal e ao nível de satisfação com a mesma, foco de interesse na presente pesquisa. Procedimento Inicialmente o estudo foi aprovado pelos responsáveis do Ambulatório de Cirurgia Plástica e Reparadora e pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da FMRP – USP (Processo HCRP no 8649/2005). As mulheres com as características necessárias para a formação do G1 e do G2 foram convidadas para participarem do estudo, agendando-se data e local para a avaliação psicológica individual, necessariamente em momento anterior ao procedimento cirúrgico nos casos do G1. As aplicações dos instrumentos de exame psicológico, tanto em G1 quanto em G2, foram realizadas em condições ambientais adequadas, em salas apropriadas (no próprio hospital ou em consultório particular) e em sessões individuais (com duração média de 60 minutos). A aplicação dos instrumentos foi realizada somente após o consentimento livre e esclarecido à pesquisa de cada voluntária, seguindo-se a sequência dos instrumentos: entrevista, CPS e ESIC, proporcionando condições de avaliação semelhantes entre as voluntárias. Os resultados de cada técnica foram individualmente examinados conforme seus adequados referenciais técnicos. As pontuações brutas das participantes em cada escala da CPS e da ESIC foram tabuladas em planilha de análise estatística (SPSS, versão 13.0), sendo primeiramente elaboradas análises estatísticas descritivas (média, desvio-padrão, mediana, pontuação mínima e máxima) em função de cada grupo avaliado (G1 e G2). Utilizou-se o teste t de Student (p < 0,05) com o objetivo de verificar diferenças no desempenho médio do Grupo 1 em relação ao Grupo 2 no que concerne a cada fator de personalidade mensurado pela CPS e o grau de satisfação com a imagem corporal mensurado pela ESIC. Resultados Na expectativa de atender aos objetivos propostos, os resultados serão apresentados separadamente para cada técnica de avaliação psicológica utilizada, tendo por base as hipóteses interpretativas indicadas em seus referenciais técnicos específicos (Costa, 2003 para CPS; Ferreira & Leite, 2002 para ESIC). Escalas de Personalidade de Comrey (CPS) O conjunto de protocolos da CPS foi considerado válido (escalas V e R), permitindo a análise dos resultados das demais escalas da CPS, apresentados na Tabela 2.

No geral, os resultados de G1 e de G2 na CPS encontraram-se dentro do padrão normativo elaborado por Costa (2003) para indivíduos adultos. Pode-se pensar, portanto, que as mulheres de G1 e de G2 apresentaram características de personalidade similares às da população em geral, resultado compatível com o esperado dados os critérios de seleção adotados no estudo. A comparação estatística dos resultados de G1 e G2 nas várias escalas da CPS (teste t de Student, p < 0,05) apontou diferença significativa na Escala T (t = – 3,1; p = 0,003) e uma tendência à significância na Escala M (t = – 1,9; p = 0,061). Houve evidências de menor pontuação para o G1, em ambos os casos. A Escala T diz respeito aos elementos psíquicos “Confiança X Atitude Defensiva”. Escores baixos nesse fator indicam pessoas que se descrevem como defensivas, desconfiadas, retraídas e com opinião inicialmente negativa sobre o valor do homem em geral (Costa, 2003). Considerando-se o menor escore na Escala T do G1 em comparação ao G2, pode-se pensar que G1 apresentou, como característica própria, maior grau de desconfiança em relação às pessoas e ao ambiente, associada a certo retraimento e a comportamento defensivo no contato interpessoal. Já a Escala M associa-se aos componentes internos relativos à “Masculinidade X Feminilidade”. As pessoas que apresentam escores baixos nesta escala percebemse como tendo mais facilidade para chorar, perturbamse com a visão de insetos e répteis, além de demonstrar interesse em histórias românticas (características socialmente tidas como “femininas”; Costa, 2003). Neste estudo, as mulheres de G1 apresentaram escores menores do que as mulheres do G2 (diferença tendendo à significância estatística). Dessa maneira, pode-se pensar que as mulheres que buscam CPE apresentaram-se como mais sensíveis a acontecimentos cotidianos no geral, enquanto as mulheres que não buscam CPE se mostraram mais fortes no enfrentamento de situações estressoras. Escala de Satisfação com a Imagem Corporal (ESIC) A visualização do conjunto dos resultados de G1 e G2 nesta escala encontra-se na Tabela 3. Nela estão apresentados, de modo descritivo, os dados da ESIC em função de seus fatores específicos, a saber: “Avaliação e/ou grau de satisfação com a própria aparência” (Fator 1) e “Preocupação com o peso” (Fator 2).

As médias de G1 e G2 nesta escala apresentaram-se dentro dos padrões normativos do estudo de referência (Ferreira & Leite, 2002). Esta evidência reforça o indicativo de adaptação funcional das mulheres dos Grupos 1 e 2 a partir da própria auto-avaliação realizada pela ESIC. Tem-se, portanto, evidência empírica para afastar a hipótese de presença de transtornos associados à satisfação com a imagem corporal no processo de busca de procedimentos cirúrgicos de natureza estética. Por sua vez, a comparação estatística de G1 e G2 nos dois fatores da ESIC (teste t de Student, p < 0,05) apontou diferença estatística significativa somente no Fator 1 (t = – 2,24; p = 0,028), com menor pontuação para G1. Desta forma, pode-se apontar que G1 se apresentou mais insatisfeito com a própria aparência do que o G2 (mulheres que não buscavam CPE). Isto faz pensar que a busca de um procedimento estético cirúrgico pareceu vinculada ao grau de insatisfação pessoal da mulher com sua própria aparência corporal, sem interferência significativa da preocupação com o peso corporal (Fator 2 da ESIC).

Discussão

O presente trabalho objetivou identificar características de personalidade e de satisfação com a imagem corporal que poderiam estar associadas ao processo de busca de procedimentos cirúrgicos estéticos em mulheres saudáveis, comparando-as a mulheres não solicitantes destes procedimentos. Os dois grupos avaliados apresentaram resultados condizentes com o padrão típico de produção de adultos não pacientes, de acordo com as normas oferecidas pela CPS (Costa, 2003) e ESIC (Ferreira & Leite, 2002). Os dados atuais apontaram características de personalidade compatíveis a um perfil psicológico sinalizador de preservação da funcionalidade psíquica das mulheres avaliadas. Estes indicadores podem ser considerados, de acordo com as possibilidades informativas dos instrumentos de avaliação psicológica utilizados, como sinais de bom nível de saúde mental. Entretanto, foi possível identificar aspectos específicos na personalidade e na imagem corporal das mulheres que estavam em busca de CPE a partir da CPS e da ESIC. Neste sentido, as mulheres que procuraram lipoaspiração e/ou mamoplastia adicional (G1) apresentaram-se mais sensíveis e desconfiadas nos contatos interpessoais, assim como mais insatisfeitas com a própria aparência, comparativamente às mulheres que não desejavam CPE. Alguns estudos científicos voltados para a avaliação de personalidade em pacientes de CPE também utilizaram instrumentos de avaliação psicológica como estratégia de coleta de dados com diversos grupos cirúrgicos, podendo ser contrapostos aos resultados presentemente encontrados com a CPS. Desta forma, por exemplo, foram identificados nestes pacientes: sinais de ansiedade fóbica (Ribeiro et al., 1992), inadequação no ajustamento social (Ishigooka et al., 1998), depressão, ansiedade social e dificuldade na relação interpessoal (Meningaud et al., 2001), sinais paranóides como egocentrismo, competitividade e impulsividade (Babuccu et al., 2003). Estas evidências aproximam-se do atual resultado encontrado com a CPS, onde as mulheres de G1 sinalizaram maior nível de desconfiança e maior retraimento, quando comparadas às mulheres que não estavam em espera de CPE. Estes indicadores de funcionalidade psíquica de G1 poderiam estar associados a uma eventual percepção, por parte destas mulheres que aguardavam CPE, de constante cobrança para seguirem padrões estéticos e comportamentais determinados (muitas vezes, anti-naturais), podendo vivenciar, por características internas, seu meio social como potencialmente hostil e ameaçador. Desta forma, poderiam permanecer em estado psíquico de prontidão para serem atacadas ou rejeitadas por este ambiente, por se considerarem esteticamente marginalizadas (Jackson, 2002; Strahan et al., 2006). Os menores escores na Escala M da CPS obtidos pelas mulheres que buscavam CPE, indicando a maior presença de características de personalidade socialmente tidas como “femininas”, podem se relacionar a maior vulnerabilidade e sensibilidade destas mulheres às pressões sociais para se obter determinados ideais ou padrões de beleza. As mulheres que se percebem como não possuidoras de formas corporais que se encaixam nos padrões de beleza feminina, socialmente difundidos, como corpo magro e esbelto, seios fartos e volumosos (e que sinalizam fortes aspirações femininas a partir desta Escala M), parecem sentir-se envergonhadas com sua aparência física, considerando-se insuficientemente atraentes e, assim, podendo tender a maior fechamento afetivo e social (Housman, 1990). Ainda foi possível identificar, na literatura específica desta área, alguns estudos que encontraram diferenças na imagem corporal de grupos de pessoas que procuravam CPE comparativamente a indivíduos sem esta demanda médica. Desta forma, Meningaud et al. (2001) identificaram maior preocupação com a aparência e com o que as outras pessoas pensavam de si nestes indivíduos. Alagöz et al. (2003), por sua vez, encontraram índices maiores de auto-estima nas pessoas que buscavam modificação estética cirúrgica, enquanto outros trabalhos não puderam diferenciá-los de indivíduos não-cirúrgicos ou com experiência cirúrgica distinta (Özgür et al., 1998; Vargel & Ulusahin, 2001). Diante deste amplo espectro de evidências empíricas a respeito dos solicitantes de CPE, os dados atuais da ESIC podem ajudar a refletir sobre a complexidade do tema em questão. Os aspectos mensurados pelo Fator 1 da ESIC (grau de satisfação com a própria aparência, com resultados inferiores em G1) levam a supor maior suscetibilidade das mulheres que buscavam CPE à internalização do padrão de beleza difundido atualmente na sociedade ocidental. Conseqüentemente, o risco de rejeição quanto à própria imagem corporal aumenta, havendo supervalorização da aparência física e, assim, podendo suscitar desejos por modificações corporais externas. Neste caso, estas teriam como objetivo a diminuição de sentimentos de inadequação pessoal e social associada à auto-percepção de afastamento dos padrões estéticos vigentes (Ferreira & Leite, 2002), tentando uma maneira direta e concreta de melhorar sua auto-imagem. Para Pitanguy (1992) esta demanda interna é que seria a poderosa fonte de motivação para a busca de realização de CPE. Concluindo, os resultados do presente trabalho evidenciaram aspectos de preservação e adaptação à realidade nas mulheres solicitantes de CPE (Mamoplastia Adicional e Lipoaspiração), ao mesmo tempo em que apontaram peculiaridades em suas características de personalidade e em seu nível de satisfação com a imagem corporal. Desta forma, pode-se notar que estas mulheres sinalizaram maior sensibilidade e sinais de desconfiança nos contatos interpessoais, associados a maior insatisfação com a própria aparência. Estes conteúdos internos devem ser considerados no momento de avaliação das candidatas a CPE, seguindo-as no decorrer de um processo de acompanhamento global de saúde, de modo a evitar descompassos e fatores de complicação na relação médico-paciente e auxiliar as pacientes a enfrentarem melhor as mudanças e as modificações desejadas em sua aparência corporal.

Referências

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Cirurgia Plástica Estética – Avaliação dos Resultados

Marcus Castro Ferreira.
Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clinicas da FMUSP.

Unitermos: Cirurgia plástica; cirurgia estética; avaliação; rejuvenescimento facial; mastoplastias.

RESUMO

A cirurgia plástica estética tem tido importante divulgação nos últimos anos. A expectativa dospacientes quanto aos resultados dosprocedimentos éfreqüentemente irreal) demostrando a falta de correta divulgação de seus limites e possibilidades. Opresente trabalho tem comofinalidade discutir a avaliação dosresultados da cirurgia estética) exemplificando com os critérios utilizados para a ritidoplastia e mastoplastia.

A cirurgia plástica é hoje uma área de atuação bastante ampla, que pode ser definida pelo conjunto de procedimentos clínicos e cirúrgicos utilizados pelo médico para reparar e reconstruir partes do revestimento externo do corpo humano. Permite, assim, a correção de eventual desequilíbrio psicológico causado pela deformação. O objetivo final é sempre o de promover melhor qualidade de vida para os pacientes.

A eficiência do tratamento proposto deve ser avaliada, segundo os princípios científicos da medicina, com base em evidências. Os resultados obtidos com o emprego das técnicas cirúrgicas são submetidos a critérios conhecidos. Por exemplo, nos casos de ausência de uma orelha, a outra, “normal”, é o padrão que representa a forma que pretendemos atingir, embora raramente consigamos. Quando há diferentes procedimentos cirúrgicos possíveis, a eficiência deles e seus índices de sucesso devem ser comparados.

Na cirurgia plástica determinamos a melhoria obtida em relação à situação inicial e não em relação a um eventual padrão ideal de beleza. Esses conceitos são claros se considerarmos a cirurgia plástica, dita “reparadora”, relacionada às deformidades congênitas ou adquiridas, em geral desvios do “normal” – por exemplo, em criança que nasce com fissura labiopalatina ou em paciente com o corpo afetado por extensa queimadura.

Entretanto, na parte da cirurgia plástica que tem sido denominada de cirurgia estética, esses critérios não são tão facilmente aplicados. A própria definição do que é cirurgia estética é ainda controversa e há poucos trabalhos na literatura médica sobre a avaliação de seus procedimentos baseada em evidências.

A superexposição do tema na mídia leiga afeta ainda mais a correta percepção do papel dessas cirurgias na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Há críticas de que seriam modismo ou futilidade.

Para efeito deste trabalho, usaremos as definições de cirurgia reparadora e estética dadas pela American Society of Plastic and Reconstructive Surgeons para efeito de cobertura de seguro-saúde, aprovadas pela American Medical Association em 1989.

A cirurgia reparadora é aquela realizada em estruturas anormais do corpo causadas por defeitos congênitos, anomalias do desenvolvimento, trauma, infeccão, tumor ou doença. É geralmente feita para melh~rar uma função, mas pode também ser feita para uma aproximação de aparência normal.

Cirurgia estética é a realizada para dar nova forma a estruturas normais do corpo, com o objetivo de melhorar a aparência e a auto-estima. Assim, a cirurgia plástica estética tem por objetivo melhorar a aparência de pessoas cujo problema não tenha sido causado por doença ou deformidade. São alterações fisiológicas, como o envelhecimento, a gravidez ou desvios da forma externa do corpo, que não configuram patologia, mas causam alterações psicológicas.

Os procedimentos cirúrgicos podem ser agrupados: aqueles para rejuvenescimento facial (ritidoplastias, blefaroplastias, entre outros); para melhorar o contorno corporal (lipoaspiração, abdominoplastias, torsoplastia, etc.), as cirurgias para alterar o volume e forma da mama (rnastoplastias), as destinadas a melhorar a forma do nariz (rinoplastias), da orelha (otoplastias), etc.

Não há, na literatura, como já dissemos, muitos relatos sobre avaliação mais precisa e objetiva dos resultados dessas intervenções. Os critérios, na maioria das vezes, são subjetivos, seja por parte do cirurgião, seja por parte dos pacientes, e estes, muitas vezes, são induzidos por expectativas falsas difundidas pela mídia leiga. Parece fundamental que a avaliação seja mais clara para que essas intervenções possam ser consideradas como o são quaisquer outros procedimentos médicos. Acreditamos que elas são benéficas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas devem ser estudadas com critérios mais científicos baseados em evidências.

Não há dúvida de que é uma tarefa difícil. Apresentaremos, neste artigo, o resumo de pesquisas que vimos realizando na Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da FMUSp’ procurando introduzir a avaliação na Cirurgia Plástica Estética. Temos utilizado desde 1991 dois critérios principais: a avaliação “estética” e o grau da satisfação dos pacientes.

A estética do corpo humano não pode ser medida pelos critérios clássicos de avaliação científica, pois o conceito do belo é subjetivo e sujeito a variações e gosto individual; no corpo humano não há belo “normal”, e a estética filosófica se preocupa com o belo ideal, artístico, por definição fora da média. É difícil definilo, pois é variável segundo os costumes, a época, a raça e a população.

Hegel considerava o belo “como o que não se define mas é imediatamente reconhecível quando se vê”. Dizia ser importante que contivesse harmonia. Estudiosos da estética dividem desde o início do século o julgamento estético em três estágios: a apreensão do objeto pelos sentidos, comparação com experiências anteriores e, segundo a linha de Kant e Schopenhauer, a concretização da sensação do belo pelo prazer cedido a quem observa. Farkas, em trabalho de caráter antropológico, tentou definir as medidas físicas faciais consideradas atraentes em jovens da Califórnia, mas, embora tenha coletado número expressivo de dados sobre ângulos e linhas faciais, não conseguiu caracterizar quais deles definiriam.rem teoria, uma pessoa como atraente’!’.

Parece-nos evidente que o conceito ideal de beleza não deva ser utilizado para definir o resultado da cirurgia e a capacidade do cirurgião plástico. No estágio atual da ciência não há como chegarmos à perfeição estética para toda a humanidade.

Os procedimentos cirúrgicos devem procurar melhorar aspectos estéticos daquela parte corpórea, daquela face ou mama, supondo, é claro, que haja “déficit estético”. A avaliação dos resultados determinará se houve melhoria no que se procurou tratar. Em outras palavras, deve-se tentar estabelecer se houve ganho estético após a realização do procedimento, em que grau e em qual proporção, comparativamente com a situação que existia anteriormente.

A comparação entre diferentes técnicas é fundamental para determinar qual seria a mais eficiente para aquela indicação. A introdução de nova técnica só se justifica quando vier substituir outra, já realizada, com vantagem. Há necessidade de casuísticas maiores, seguidas com tempo adequado, para que essa comparação seja mais conclusiva. Na discussão sobre resultado cirúrgico, é muito relevante o estudo da incidência de complicações e, principalmente, de fatores que levem a alterações estéticas ditas “negativas”.

Não há dúvida de que o dado geral mais importante refere-se à quantidade e à qualidade de cicatrizes resultantes, inevitáveis em qualquer operação em que se incisa, além da pele, pelo menos o celular subcutâneo. Do ponto de vista psicológico, reveste-se de caráter ainda mais importante para os pacientes por revelar que passaram por transformação estética – eles não podem esconder que fizeram a CirurgIa.

Trabalhos da década de 70(3) e mais recente’!’ procuraram quantificar o aspecto estético da cicatriz, dando notas a aspectos da cicatriz como coloração, forma, volume e distinção dos tecidos vizinhos. Propõem critérios para separar as cicatrizes de evolução normal, esteticamente menos percebidas, daquelas exuberantes (hipertróficas) ou mesmo patológicas (quelóides) .

A porcentagem de complicações encontrada em populações operadas com diferentes técnicas é importante, deve ser cotejada com a encontrada em média naquela comunidade e eventualmente comparada com dados internacionais. Esses dados – evidências – devem, hoje, fazer parte de qualquer publicação que trate de tema cirúrgico em que o aspecto das cicatrizes seja importante.

A relevância desses conceitos e sua quantificação no contexto médico-legal parece-nos clara. o critério, talvez fundamental hoje para a avaliação dos resultados de procedimento estético, principalmente nos EUA, é o da satisfação dos pacientes. Inicialmente considerado subjetivo, aleatório e, portanto, pouco científico, passou a ter maior importância nos “outcome studies”, em que se acrescentaram medidas mais objetivas de comportamento, tais como questionários padronizados, que inferem características de comportamento, e testes psicológicos conhecidos, que afastam idéias preconcebidas e passam a refletir mais adequadamente o ganho na auto-estima obtido após essas operações.

Sarwer et al., em trabalho recente, fazem revisão dos métodos psicológicos investigativos usados na cirurgia estética e propõem critérios baseados na imagem corporal. Esta é definida como o conceito multifacetado, compreendendo os pensamentos e o comportamento a respeito do corpo, influenciados no desenvolvimento por fatores perceptivos c socioculturais. A imagem corporal já havia sido definida como o conjunto de percepções, pensamentos e sentimentos sobre o corpo e experiências corporais. Eles retomam o tema de que as pessoas procuram a cirurgia estética não somente para alterar sua aparência externa (seu esquema corporal), mas também para a transformação de aspectos psicológicos relacionados ao corpo (ou partes dele), sua imagem corporal.

Quatro elementos do conceito de imagem corporal são importantes aqui: a realidade física da aparência em geral, a percepção dela pelo paciente, a importância dada por ele a essa aparência e, o que é talvez o mais importante, seu grau de insatisfação com ela. A investigação dos resultados do tratamento cirúrgico deverá ser também feita com base no ganho psicológico conseguido após a cirurgia.

A questão é complexa porque não se conhece o grau de insatisfação com a imagem corporal existente na população em geral, ou naquela que procura cirurgia estética. Não são as alterações patológicas com grau extremo de insatisfação com a forma do corpo – as dismorfobias (“body dysmorphic disorders”).

Iniciamos, na década de 90, os estudos sobre o tema, com a colaboração da Dra. Sandra Faragó Ribeiro, psicóloga com atuação na Divisão de Cirurgia Plástica. Ela usou questionários e testes psicológicos bem conhecidos, tais como o do “Desenho da Figura Humana” (DFH)<6l e o “Crown-Crisp Experimential Index” (CCEI), que permitem medir alterações em traços da personalidade, comparando os dados antes e após a modificação da forma externa promovida pela cirurgia. Os trabalhos mais significativos foram feitos com a cirurgia estética de face e plástica redutora de mama.

REJUVENESCIMENTO FACIAL

Como avaliar mais corretamente o tratamento feito no envelhecimento facial? O que buscam os cirurgiões alcançar com os procedimentos, uma vez que é sabido não poderem alterar esse envelhecimento, mas somente atenuar os seus aspectos mais visíveis? A única certeza que temos é que esses procedimentos não devem ser considerados procedimento “embelezadores”, pois trariam em si o conceito errôneo de que “o que é velho é feio”.

Os métodos clínicos e cirúrgicos usados na prática clínica para o chamado “rejuvenescimento facial” são ainda, para muitos, de indicação controversa, e seu estudo tem sido comprometido pela ausência, até recentemente, de investigações em hospitais universitários, pois são procedimentos cirúrgicos não autorizados pelo SUS.

O que se conhecia provinha principalmente de observações subjetivas feitas em pacientes de clínica privada, sem a isenção científica imprescindível para a correta interpretação dos resultados, pois havia, muitas vezes, comprometimento com aspectos comerciais, como a necessidade de angariar novos clientes.

Se observarmos o que vem ocorrendo na divulgação dos chamados novos métodos para tratar o envelhecimento, principalmente na mídia leiga; fica claro esse estado de coisas, pois há manipulação de dados e muito “marketing” . Nos últimos dez anos pudemos fazer observações mais acuradas sobre diferentes métodos usados para o rejuvenescimento, incluindo procedimentos cirúrgicos, tratamentos exfoliativos da pele, o laser e outros.

Preocupou-nos principalmente, como cirurgiões, medir o resultado das ritidoplastias ou suspensões faciais (“face-lifts”), consideradas como o principal método para o rejuvenescimento facial, e para tal usamos o índice de satisfação das pacientes, testes para avaliação de personalidade e incidência de complicações. A avaliação estética feita pelo cirurgião, observadores e pacientes, em que se comparam fotografias do pré e pós-operatório, revelou ser muito subjetiva e inconsistente para produzir evidências.

A incidência de complicações é baixa em mãos treinadas e comparável às porcentagens citadas em literatura internacional. O índice de satisfação das pacientes e os testes psicológicos para avaliação de personalidade foram mais produtivos. Há, em geral, três razões principais para a paciente querer fazer a plástica: 1 – melhorar sua confiança profissional; 2 – ganhar mais confiança em si mesma, em sua vida pessoal; 3 – aliviar o desconforto da face cansada que não corresponde à sensação interna de juventude.

No pré e pós-operatório (6 meses) as pacientes (todas foram mulheres) foram solicitadas a responder perguntas, em entrevista semidirigida (questionário), e a realizar testes do desenho da figura humana – pedia-se que elas desenhassem, dentro de espaço predeterminado, a figura de uma pessoa da forma que quisessem e que respondessem outro teste, o Crown Crisp – teste com questões criado por dois ingleses para determinar a dinâmica de personalidade e eventuais alterações causadas por agentes externos, no caso, a operação.

Os resultados mais significativos foramv”:

• As pacientes se mostraram, em geral, satisfeitas com o resultado, pois o índice de complicação foi baixo – somente em alguns casos as cicatrizes aparentes foram motivo de preocupação

• Não há dúvida de que o “mito” da cirurgia plástica influenciou diretamente a impressão das pacientes – principalmente quando realizadas por cirurgiões renomados -, no caso os cirurgiões do Hospital das Clínicas de São Paulo.

• A gratidão e certa admiração que sentiam pelos médicos também influenciaram o modo como avaliaram o resultado. Esse fato reforça nossa compreensão de que a relação médico-paciente é fundamental nessa avaliação. O bom relacionamento com o médico fez, às vezes, a paciente considerar bom o resultado estético até mesmo sofrível, enquanto a perda do relacionamento pode criar frustração e sentimento de revolta nas pacientes causando litígio, embora o resultado objetivo possa ter sido o que em média se esperasse de cirurgiões naquela comunidade.

• A operação melhorou a qualidade de vida, pois ocorreu melhora na auto-estima e na segurança, fez com que essas mulheres se sentissem capazes de alcançar seus objetivos de vida e a ter maior desenvolvimento, inclusive, em alguns casos, com ganhos profissionais. Ainda nos aspectos psicológicos, foram observados no pós-operatório índices menores de ansiedade e depressão.

MASTOPLASTIAS

A mastoplastia é a cirurgia plástica das mamas. Consideram-se duas formas de mastoplastia estética: a de aumento (geralmente com próteses de silicone) e a de redução. A mastoplastia de redução é dos mais freqüentes procedimentos realizados em cirurgia plástica no Brasil. As pacientes procuram a cirurgia para redução do tamanho das mamas e assim eliminar sintomatologia (dor na coluna ou no ombro, intertrigo, desconforto, entre outros) ou somente para melhorar o aspecto estético ou a combinação dos dois. A avaliação dos resultados pode ter, portanto, critérios objetivos – a eliminação dos sintomas -, mas deve também ter outros – estéticos e pessoais. Há, hoje, preocupação mais específica com esse tipo de operação, porquanto temos que definir, para efeito de cobertura por planos de saúde, se o procedimento é estético (não coberto) ou reparador (coberto).

Se nos basearmos na experiência de outros países, em especial dos Estados Unidos e da Alemanha, teríamos que utilizar critérios quantitativos de volume das mamas para separar os dois grupos.
O mais usual naqueles países é o de considerar “reparador” o procedimento no qual o peso que foi retirado da mama ultrapassou 500 g, e o estético, quando inferior a ele.
Schnur propôs um método mais sofisticado, em que se cotejava o peso da mama ressecada com a área de superfície corpórea (BSA=k. hm. wn), em que h é a altura, w é o peso e k, m e n são as constantes’l'”. No Brasil, até o momento, talvez exatamente por não haver definição da própria cirurgia estética, os planos de saúde não autorizam nenhuma forma de mastoplastia redutora.

O SUS autoriza essas operações em alguns casos, segundo critérios pouco claros – em geral são feitas em Hospitais Universitários -, e somente naquelas grandes hipertrofias em que o fator “sintomatologia” parece ser mais importante para o paciente do que o “estético”. Avaliada sob o ponto de vista da sintornatologia, a mastoplastia redutora oferece resultados confiáveis, não havendo mais nenhuma dúvida a respeito.

O problema principal reside nos aspectos estéticos pois, com o aparecimento de técnicas mais criativas, conseguimos resultados estéticos melhores, mas ainda longe da perfeição estética idealizada pelas pacientes e apregoada pela mídia. Para o cirurgião plástico, a cirurgia é indicada sempre que puder ajudar a paciente, independente da querela legal, mas, com o propósito de estudarmos os resultados, separamos as pacientes em grupos cuja ressecção de tecido de mama por lado foi menor que 500 g, aquelas entre 500 e 1000 g e acima disso (gigantomastia) .

Desde 1990, estudamos os resultados em pacientes com hipertrofia mamária submetidas a mastoplastia redutora e mastopexia, usando critérios estéticos e o de satisfação das pacientes. A avaliação estética é feita pelo cirurgião, pela paciente e observadores independentes antes (pré-operatório), no pós-operatório de 1 mês (recente), após 6 meses (médio), após 1ano e após 2 anos (tardio). Foi idealizada escala de notas para a estética de elementos da mama, como se verifica no quadro abaixo:

A nota O de cada item era sempre dada para o mau aspecto estético, 1, regular e 2, bom. A comparação do aspecto pós-operatório com o do pré-operatório foi naturalmente importante nas notas. Interessante que, para a cicatriz, a nota 2 refere-se a sua boa qualidade e a nota O, à cicatriz patológica.
Assim, se em todos os critérios a nota for O, a soma será O e o resultado estético deve ter sido desastroso, e, por outro lado, a nota 2 em todos itens significando bom resultado, a soma seria 10 e, é claro, o resultado estético deve ter sido próximo da perfeição, do ideal estético para a mama (para aq uele observador). As somas até 5 significaram para nós resultados insatisfatórios, e as menores que 4 indicariam a necessidade de reoperação.

As somas maiores que 7 indicaram os bons resultados, no geral. Embora houvesse o fator subjetivo, os critérios usados foram mais facilmente compreensíveis, e o número de observações permitiu melhor dispersão de evenmais opiniões díspares. A média das somas dadas por 5 pessoas (cirurgião, paciente, 3 observadores independentes) ficou, na maioria dos casos, entre 5 e 7 no primeiro ano, melhorando no segundo ano, provavelmente pela evolução natural, com o tempo, em relação à visibilidade das cicatrizes.

As avaliações feitas por mulheres revelaram notas mais baixas do que as dadas por homens, provavelmente por serem mais críticas com a estética, seja própria, seja das outras.
As médias dadas pelos cirurgiões foram mais baixas do que as das pacientes, estas em geral maiores que 7, refletindo, neles, o maior rigor no julgamento estético e nas pacientes algum grau de agradecimento inconsciente àqueles que as ajudaram a melhorar sua qualidade de vida. o aspecto estético das cicatrizes constituiu o mais importante elemento negativo na avaliação.

50% das pacientes referiram desagrado com as cicatrizes quando a técnica usada resultava em T invertido. Técnicas mais recentes, com cicatrizes reduzidas ou mesmo incisões somente com o braço vertical do T, parecem ter melhor aprovação pelas pacientes, desde que não interfiram nos outros elementos estéticos da mama: forma e volume.

A satisfação das pacientes foi medida por questionário dirigido e pelos testes de Desenho de Figura Humana e Crown-Crisp, apresentando resultados positivos e significativos. os casos de grande hipertrofia das mamas, em que a redução do peso da mama e a eliminação de sintomas eram os principais fatores de indicação, as pacientes se declararam satisfeitas, mesmo se o resultado estético não fosse tão satisfatório.
Era o grupo em que a ressecção ultrapassara 1000 g por mama, caracterizando a gigantomastia, pacientes para as quais não entendemos por que não há cobertura por planos de saúde.

O grupo de motivação mais claramente estética era aquele em que a ressecção era menor do que 500 g e a ptose mamária (seios caidos) era a queixa principal. No grupo intermediário (entre 500 e 1000 g), as duas indicações coexistem e podem ou não ser cobertas pelos planos de saúde, segundo critérios internacionais.

Em nosso trabalho, as queixas das pacientes no préoperatório eram predominantemente estéticas em 40% dos casos. Nesses, os testes psicológicos realizados no pré e pós-operatório indicaram que as pacientes não tinham distúrbios psicológicos, que a cirurgia trouxe benefício quanto à qualidade de vida e que elas se sentiam mais seguras no relacionamento interpessoal. Houve diminuição, estatisticamente significativa, no traço de depressão apresentado por essas pacientes, quando comparado com o estado anterior à cirurgia, confirmando de maneira indireta o ganho obtido em sua auto-estima.

A cirurgia estética, portanto, apresenta dificuldades para sua avaliação baseada em evidências, mas os dados até agora disponíveis confirmam sua condição de ato médico perfeitamente justificado e importante para o bem-estar e saúde dos pacientes.

Associações e diferenças entre homens e mulheres na aceitação de cirurgia plástica estética no Brasil

Associations and differences between men and women on the acceptance of cosmetic plastic surgery in Brazil

Angela Nogueira Neves, Betanho Campana, Lucilene Ferreira, Maria da Consolação, Gomes Cunha Fernandes, Tavares.

Trabalho realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil.
Artigo submetido pelo SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBCP.
Artigo recebido: 13/1/2012
Artigo aceito: 18/3/2012

RESUMO

Introdução: O Brasil é o terceiro país no mundo em número de cirurgias plásticas estéticas. O objetivo deste estudo é verificar as correlações entre a aceitação de cirurgia plástica, a satisfação com o corpo e a internalização de mensagens midiáticas e outras variáveis psicossociais em uma amostra de adultos brasileiros, de ambos os sexos.
Método: A amostragem foi não-probabilística, voluntária, composta por 198 pessoas, sendo 50% mulheres, que responderam os 5 instrumentos desta pesquisa. Na análise dos dados, foram usados testes de correlação e variância, com significância de 95%.
Resultados: Há correlações significantes entre aceitação de cirurgia plástica estética, internalização da mídia e apreciação corporal, em ambos os sexos. A aceitação de cirurgia plástica estética correlaciona-se com a satisfação com a vida apenas entre as mulheres. Não há diferenças entre os sexos quanto à aceitação de cirurgia plástica estética de uma forma geral, apenas especificamente quanto à decisão de se submeter a cirurgia após análise dos riscos.
Conclusões: Os dados da amostra apontam convergência com observações internacionais e, apesar da amostra restrita, espera-se contribuir para a compreensão ampliada da procura de cirurgia plástica estética em nosso País.
Descritores: Cirurgia plástica. Propaganda. Satisfação pessoal.

ABSTRACT

Background: Brazil ranks third among all countries in the number of cosmetic plastic surgery procedures performed per year. The objective of this study was to examine the relationship between acceptance of plastic surgery and bodily satisfaction, internalization of media messages, and other psychosocial variables in a convenience sample of male and female Brazilian adults.
Methods: Non-probabilistic sampling was used to select a sample (n = 198) of an equal number of men and women for voluntary participation. All participants completed 5 study instruments that collected data used to perform correlation and variance analyses at a 95% level of significance.
Results: A significant association between acceptance of cosmetic plastic surgery and the variables of internalization of media messages and bodily appreciation was found in both sexes. A significant association between acceptance of cosmetic plastic surgery and life satisfaction was found only in women. Except for differences regarding the decision to undergo surgery after having considered the risks, no other differences regarding the acceptance of cosmetic plastic surgery in general were found between men and women. Conclusions: Despite the small sample examined in this study, the findings largely accord with international observations and are expected to contribute to further understanding of the demand for cosmetic plastic surgery in Brazil.
Keywords: Surgery, plastic. Propaganda. Personal satisfaction.

INTRODUÇÃO

A cirurgia plástica estética é um procedimento cirúrgico eletivo, por meio do qual se busca a melhora da aparência, modificando os traços originais da face ou as formas do corpo que desagradam seus portadores.
Segundo levantamento realizado, em 2009, pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery, o Brasil ocupa o terceiro lugar em número de cirurgias plásticas estéticas, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Seguindo a tendência mundial, os 5 procedimentos estéticos mais realizados no Brasil são, em ordem crescente: lipoaspiração, mamoplastia de aumento, blefaroplastia, rinoplastia e abdominoplastia. Estima-se que, em 2009, tenham sido realizados 8.536.379 procedimentos estéticos cirúrgicos no mundo, sendo 1.054.430 deles no Brasil, um considerável aumento comparativamente aos 363.609 procedimentos cirúrgicos de 2004, computados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Finger estebelece o perfil do brasileiro que procura cirurgia pástica: prioritariamente mulheres, jovens, que buscam mamas cada vez mais volumosas e uma retirada cada vez maior de gordura nas lipoaspirações.

Os motivos e os preditores para a realização de cirurgia plástica estética passaram a ser foco de estudos acadêmicos nos últimos anos. Sabe-se que a aceitação de cirurgia plástica está positivamente associada à exposição de mensagens midiáticas e que pessoas próximas submetidas previamente a esse tipo de cirurgia podem influenciar outras a fazerem o mesmo.
Sarwer et al. identificaram correlações positivas entre aceitação de cirurgia plástica estética com orientação à aparência e influência da mídia nas atitudes diante da ci­­­­rurgia plástica. Por outro lado, Henderson-King e Brooks8 concluíram que a internalização dos padrões de beleza, o materialismo (tendência a tomar o corpo como objeto, nesse caso) e os comentários paternos sobre a beleza são preditores da aceitação de cirurgia plástica estética, enquanto o índice de massa corporal correlaciona-se positivamente com a aceitação da cirurgia.
No Brasil, há registro de que insatisfação com o corpo, experiências prévias bem-sucedidas da mãe com cirurgia plástica e seus comentários sobre a beleza da filha, aceitação do parceiro, medo de ser “trocada” por seu parceiro por outra mulher de melhor aparência e perspectiva de sucesso na carreira foram motivos relatados na pesquisa etnográfica realizada por Edmonds9 para a realização de uma cirurgia plástica estética.

O belo tem sido, via de regra, associado a algo bom10. Essa associação oferece explicação simples, porém plausível, para a busca do corpo perfeito que se observa entre homens e mais notadamente entre mulheres. No Brasil, corpo de mulher belo é magro, de pele clara, cabelos loiros e lisos, com poucas curvas. O corpo feminino ideal, na visão dos homens, constitui-se de curvas, seios grandes, empinados e firmes, e nádegas bem torneadas. Já o corpo do ideal do sexo masculino constitui-se de traços da face bem marcados e equilibrados, altura em torno de 1,80 m, baixo porcentual de gordura, abdome definido, tórax e ombros largos. Alcançar o ideal seria obter a perfeição, a harmonia e a beleza; seria a realização da essência do homem divino no corpo, o que aproximaria o sujeito da participação do eterno11.

O corpo belo é um padrão construído socialmente, pau­­tado em atributos e comportamentos distintos, qualificados como adequados ou ideais12. As mensagens veiculadas pela mídia convencional e pela mídia alternativa (Internet) penetram no dia a dia das pessoas e configuram-se como instrumento poderoso na determinação dos padrões de aparência física ideal13. Contudo, não é uma influência homogênea: individualmente, há diferenças na internalização dessas mensagens midiáticas e, por conseguinte, no impacto que elas causam nos comportamentos, cognições e afetos relativos à própria aparência. Os estudos sobre as mensagens midiáticas relacionadas à aparência física e a sua internalização abrangem as duas facetas propostas por Cash nas reflexões sobre a aparência: uma de ordem social, pautada na visão da pessoa quanto a seu corpo em relação aos outros corpos, e uma de ordem pessoal e subjetiva, sobre as experiências individuais acerca da própria aparência. As influências dessas facetas são bidirecionais e, em última instância, delineiam o investimento e a avaliação sobre a aparência do corpo. A preocupação e o investimento em relação à aparência estabelecem-se num continuum, que varia desde os cuidados necessários e saudáveis em relação ao corpo até o excesso, no qual a saúde é colocada em risco e o sujeito experiencia perdas sociais e afetivas, podendo evoluir para um quadro de dismorfia corporal. Os defeitos reais ou imaginários do corpo, na dismorfia corporal, tornam-se o foco da vida do sujeito, e sua vida social, suas relações afetivas e sua vida financeira podem ruir em decorrência da busca pelo corpo ideal, por meio de dietas, exercícios e cirurgias plásticas.

Diante do aumento considerável de cirurgias plásticas estéticas realizadas no Brasil, em 2009, e do papel das mensagens midiáticas direcionadas ao público na constituição do padrão de corpo ideal, enfatizando o corpo magro de bustos fartos para as mulheres e forte e viril para os homens, seria relevante observar de forma mais sistemática como a internalização das mensagens midiáticas e outras variáveis psicossociais já destacadas na literatura influenciam a predisposição de homens e mulheres a se submeterem a cirurgia plástica no Brasil.

Considerando o exposto, o objetivo deste estudo é determinar se há diferenças entre homens e mulheres na aceitação de cirurgia plástica e as correlações entre esta e outras variáveis psicossociais, como satisfação com o corpo, percepção da atratividade física e internalização midiática, em uma amostra de adultos brasileiros.

MÉTODO

A amostra para esta pesquisa foi não-probabilística, por conveniência e voluntária, sendo os dados coletados numa cidade do interior de São Paulo, em uma universidade pública, sendo composta por docentes, profissionais técnicos-administrativos, discentes e pessoas da comunidade. A amostra foi composta por 198 pessoas, com idades entre 18 anos e 73 anos, com média de 27,98 ± 10,56 anos, sendo 50% mulheres. O índice de massa corporal médio variou, entre as mu­­­­lheres, de 16,11 kg/m² a 40,9 kg/m², com média de 23,23 ± 4,11 kg/m²; já entre os homens, variou de 17,54 kg/m² a 33,95 kg/m², com média de 24,21 ± 2,96 kg/m². Quanto à opção sexual, 94,9% declararam-se heterossexuais. Com relação à religião, 72,7% dos entrevistados eram católicos, 12,1%, protestantes, 8,1%, espíritas, 5,1%, ateus ou agnósticos, e os demais tinham outra religião. Quanto ao estado civil, 37,4% dos indivíduos declararam-se solteiros, enquanto 53% eram casados ou estavam em um relacionamento, 7,6% eram divorciados e os demais, viúvos. Do total da amostra, 65,7% declararam que praticavam exercício regularmente.

Após aceitarem o convite para participar da pesquisa e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os voluntários responderam a 5 instrumentos:

• Acceptance of Cosmetic Surgery Scale (ACSS)20: escala de 15 itens que avalia três componentes ati­­tudinais distintos relacionados à cirurgia plástica estética, a saber: 1) social (5 itens que avaliam motivações sociais para fazer a cirurgia plástica estética); 2) intrapessoal (5 itens representando atitudes relacionadas a benefícios percebidos com a cirurgia plástica estética); e 3) reflexão (5 itens que refletem a probabilidade de o sujeito fazer uma cirurgia plástica estética, incluindo condições tais como dor ou efeitos colaterais). Todos os itens estão dispostos numa escala tipo Likert de 7 pontos (numa escala que variou de 1 a 7, sendo 1 = discordo plenamente e 7 = concordo plenamente). O estudo de validação para o Brasil21 comprovou a estrutura fatorial original da escala, obtendo índices adequados de confiabilidade (α > 0,70) para cada um dos fatores e para a escala geral. Para a amostra deste estudo, a confiabilidade interna dos fatores foram α = 0,80 para fator 1, α = 0,82 para fator 2, α = 0,87 para fator 3 e α = 0,91 para a escala como um todo. O resultado final é dado pela soma dos escores dos itens, e quanto maior o escore maior é a inclinação a se submeter a uma cirurgia plástica.

• Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire – 3 (SATAQ-3)22: consta de 30 itens des­­tinados a avaliar a internalização de mensagens midiáticas. Os itens estão divididos em 4 fatores:
1) internalização geral, que versa sobre as informações relacionadas a beleza e atratividade veiculadas pelos diversos canais midiáticos;
2) internalização atlética, que representa a influência do corpo atlético na avaliação e no investimento da aparência;
3) pressão, que reflete os parâmetros do corpo perfeito e o quanto a mídia influencia o sujeito a persegui-lo;
4) informação, que versa sobre o grau em que os canais de mídia são considerados importantes como fonte de informação sobre ser atraente.
Na validação para a língua portuguesa no Brasil, a escala apresentou mesma estrutura fatorial e mesma distribuição de itens nos fatores que a escala original, com índices de confiabilidade interna adequados. Para a amostra deste estudo, a confiabilidade interna variou entre α = 0,90 e 0,92 entre os fatores. O resultado dos escores é dado pela soma das respostas em cada fator. Quanto maior o escore maior é a internalização das mensagens da mídia específicas do fator.

• Body Appreciation Scale (BAS): é uma escala que mensura a apreciação do corpo, um aspecto da imagem corporal positiva. Os itens da escala foram elaborados de forma a atender características da imagem corporal positiva: opinião favorável sobre o corpo; aceitação do corpo, a despeito do peso; respeito ao corpo, atendendo a suas necessidades; e adoção de “comportamentos saudáveis” e proteção contra imagens estereotipadas. O instrumento ori – ginal é unidimensional, com 15 itens, dispostos numa escala tipo Likert de 5 pontos (numa escala que variou de 1 a 5, sendo 1 = nunca e 5 = sempre). Em sua validação para o Brasil21, o instrumento mostrou-se inicialmente bidimensional, sendo um dos fatores identificado como Apreciação Geral do Corpo, com 10 itens que versam sobre atitudes positivas sobre o corpo. O outro fator foi identificado como Investimento sobre o Corpo, que reúne comportamentos de proteção ao corpo. Entretanto, esse fator não obteve índice adequado de confiabilidade interna no estudo, havendo a recomendação do uso apenas dos 10 itens do primeiro fator. Os dados do segundo fator devem ser descartados das análises, sendo usados apenas pelo pesquisador a título de informação. Nesse estudo, a confiabilidade interna do fator 1 foi de α = 0,90. Para se ter o resultado da escala, deve-se somar todos os itens. Quanto maior a pontuação maior é a apreciação corporal.

• Indicadores de variáveis psicossociais: foram in­­­cluídas 3 perguntas a respeito da atratividade física, para serem respondidas numa escala de 7 pontos (numa escala que variou de 1 a 7, sendo 1 = nem um pouco atraente e 7 = muito atraente, em resposta à pergunta “Quão fisicamente atraente você diria que é?”); da satisfação com a vida (numa escala que variou de 1 a 7, sendo 1 = nem um pouco satisfeito e 7 = muito satisfeito, em resposta à pergunta “O quão satisfeito com a sua vida você diria que está?”); e da percepção da segurança financeira (numa escala que variou de 1 a 4, sendo 1 = inseguro e 4 = seguro, em resposta à pergunta “Hoje, o quão seguro financeiramente você se sente?”).

• Questionário demográfico: destinado a coletar in­­­formações características da amostra, como idade, peso, altura, opção sexual e estado civil.

Os dados foram tabulados e o software StatisticalPackage for the Social Sciences (SPSS), versão 15, foi usado para determinar a correlação entre os dados coletados, por sexo. O teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov foi empregado para verificar a distribuição dos dados e determinar o uso de testes adequados para cada análise. Foram realizadas análises unidimensionais de correlação entre as variáveis estudadas, para inferir as associações entre as variáveis, e análise de variância dos escores, para avaliar as diferenças entre os sexos quanto aos construtos em estudo. Realizaram-se análises bivariadas de correlação entre os escores de cada um dos fatores da ACSS, entre os escores de cada um dos fatores da SATAQ-3, entre o escore do fator Apreciação Geral do Corpo da BAS, entre as perguntas a respeito da satisfação com a vida, atratividade física e segurança financeira, e idade dos voluntários, separado por sexo.
O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (parecer 657/2010).

RESULTADOS

Na amostra feminina, observou-se que maior aceitação de cirurgia plástica estética pautada em motivações sociais se associou a maiores benefícios pessoais percebidos com a realização da cirurgia plástica estética, maior tendência a se decidir a fazer uma cirurgia plástica estética após considerar seus riscos e efeitos colaterais, maior internalização geral midiática de informações sobre beleza e atratividade, e também maior internalização do ideal de corpo atlético na avaliação da aparência e menor apreciação do corpo (Tabela 1).

Já a maior aceitação de cirurgia plástica estética pautada em motivações pessoais, benefícios e ganhos pessoais percebidos associou-se positivamente com maior tendência a realizar a cirurgia plástica estética, mesmo após considerar os riscos e efeitos colaterais e a maior internalização geral midiática de propagandas sobre beleza e atratividade, estando esta também positivamente associada ao fator “reflexão” da ACSS.
Essas associações apontam para três pontos importantes: os riscos da cirurgia plástica estética parecem subestimados, benefícios sociais e pessoais são maximizados, e propagandas sobre beleza e atratividade física mostram-se em consonância com o ideal do corpo, alimentando e sendo alimentado pelos padrões vigentes, enquanto o corpo real parece desvalorizado.
Entre os homens, as maiores motivações sociais para uma cirurgia plástica estética e as maiores probabilidades de rea – lizá-la, mesmo após considerar riscos e efeitos colaterais, correlacionaram-se com significância estatística entre si e com maior internalização geral de mensagens midiáticas a respeito da beleza e atratividade, maior internalização de referenciais atléticos veiculados pela mídia, maior pressão recebida pela mídia para atingir o corpo perfeito, maior internalização das informações sobre beleza e atratividade veiculadas pelos diversos canais midiáticos, e menor apreciação geral do corpo.

Os maiores benefícios pessoais creditados à cirurgia plástica estética correlacionaram-se com significância estatística a maiores índices de internalização de mensagens gerais a respeito de beleza e atratividade, maior internalização do ideal de corpo atlético na avaliação da aparência e menor apreciação do corpo.
Nos homens, os dados também apontaram para subestimação dos riscos da cirurgia plástica estética e maximização dos ganhos, porém com a diferença que, além das mensagens midiáticas gerais a respeito do corpo belo, a promoção midiática do padrão atlético estabeleceu-se como fonte importante para a aceitação de cirurgia plástica estética.
O teste de Mann-Whitney demonstrou que não há diferenças significativas nos escores dos fatores “social” e “intrapessoal” da ACSS entre as amostras masculina e feminina (U = 4.673; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,57; U = 4.571; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,43, respectivamente), mas apontou diferença no fator “reflexão” da referida escala, que trata da avaliação direta da probabilidade de fazer uma cirurgia plástica estética, após considerar os riscos e a dor do procedimento (U = 3.847,5; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,009).

As mulheres da amostra (mediana = 110,14) tenderam a avaliar mais positivamente os ganhos da cirurgia plástica estética, minimizando riscos e efeitos colaterais, que os homens (mediana = 88,86). Quanto à apreciação do corpo, o teste de variância indicou diferenças significativas entre os sexos (U = 3.675; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,002), já que as mulheres apresentaram menores escores de apreciação do corpo (mediana = 87,12) que os homens (mediana = 11,88).
Houve também diferença entre os sexos nos escores do fator “internalização geral” (U = 3.892; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,012) e do fator “pressão” da SATAQ-3 (U = 4.017,5; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,028), tendo as mulheres maiores escores de internalização de mensagens gerais sobre beleza e atratividade (mediana = 109,69 e 108,42, respectivamente) e se sentirem mais pressionadas pela mídia a atender os parâmetros do corpo perfeito que os homens (mediana = 89,31 e 90,58, respectivamente). Neste estudo, os homens (mediana = 106,26) declararam-se significativamente mais satisfeitos com a vida (U = 4.041,5; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,048) que as mulheres (mediana = 90,74). Nas demais variáveis estudadas, não houve qualquer variância significativa entre os dois grupos.

DISCUSSÃO

O objetivo deste estudo exploratório foi apresentar, de forma objetiva, correlações entre a aceitação de cirurgia plás – tica estética no Brasil e algumas variáveis psicossociais, selecionadas de acordo com evidências da literatura internacional e nacional, esta última prioritariamente qualitativa.
Dentre todas as variáveis investigadas, a internalização da mídia, em seus 4 fatores, foi a que apresentou correlações mais recorrentes com a aceitação de cirurgia plástica estética.
De fato, como destacam Goldenberg e Ramos, é por meio do “cinema, da televisão, da publicidade e de reportagens de jornais e revistas que a exigência [de boa forma física] acaba atingindo os simples mortais, bombardeados… por imagens de rostos e corpos perfeitos”. Destaca-se a diferença verificada no fator específico “reflexão”, já que as mulheres tenderam mais a se decidir a fazer cirurgia plástica estética após refletir sobre efeitos colaterais e dor. Interessante observar que entre as mulheres ocorre associação negativa entre o fator “reflexão” e a satisfação com a vida.
Esse dado vai de encontro à colocação de Vigarello19, quando afirma que a beleza valoriza o feminino e reforça o estatuto de mulher na modernidade, mesmo diante da diversidade de papéis e valores alcançados pelo sexo feminino nos últimos 60 anos. A responsabilidade de manter-se bela recai mais fortemente sobre a mulher que sobre o homem. Se a beleza hoje é produto que se vende, quem não a busca ou fracassa em atingi-la fracassa também socialmente.
Nas mulheres deste estudo foram encontradas evidências desse valor que se construiu na elite europeia ao longo dos séculos XVII e XIX. Quanto aos homens, as correlações negativas entre a aceitação de cirurgia plástica estética, tanto no escore geral como em cada um dos fatores da escala, e a apreciação do corpo surpreendem. A amostra masculina deste estudo deu indícios de que o homem não tem suportado seu corpo “inadequado”, e está disposto a sacrifícios para atingir um corpo belo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, nos últimos 5 anos, cresceu de 5% para 30% o número de homens que buscam cirurgia plástica estética no Brasil, sendo a lipoaspiração, a rinoplastia e a otoplastia os procedimentos mais procurados por eles.
Nesses últimos 10 anos, observou-se mudança do padrão de satisfação com o corpo entre os homens, que ganhou destaque com a descrição do “Complexo de Adônis”, um quadro que congrega diferentes formas de obsessão com o corpo, desde a preocupação com a calvície e o tamanho do pênis, passando pelas dietas e pelas plásticas aos esteroides anabolizantes.
É a busca pelo “super-homem”, a qualquer preço. Esse quadro obsessivo vai além da insatisfação corporal, causando impacto nas relações pessoais e nas relações de trabalho. Além das preocupações e estratégias para a mudança do corpo características do “Complexo de Adônis”, transtornos alimentares, dismorfia corporal, dismorfia muscular e dependência de exercícios são outros transtornos que podem ser incluídos nesse quadro1 .

As limitações deste estudo recaem sobre a representatividade da amostra diante da população brasileira, apesar de termos evitado concentrar a amostra entre estudantes universitários, uma crítica recorrente nesse tipo de estudo. Uma segunda questão são as variáveis selecionadas, que foram escolhidas com indicativos de sua importância pela literatura internacional. Uma pesquisa futura, no cenário nacional, poderia identificar outras variáveis importantes, dando continuidade a essa temática e permitindo que aprofundemos a compreensão da aceitação de cirurgia plástica, da influência da mídia e da relação do brasileiro com seu corpo.
Uma terceira questão versa sobre uma possível diferença na aceitação da cirurgia plástica estética e o nível de exposição do corpo. Já que o corpo menos vestido deve cobrir-se adequadamente por uma pele firme e “sarada”, seria interessante observar como se dá a aceitação de cirurgia plástica em cidades litorâneas do Brasil, notadamente o Rio de Janeiro.

Apesar dessas limitações, acreditamos que o estudo permite uma compreensão mais ampla da procura de cirurgia plástica estética em nosso País, levando milhares de brasileiros aos consultórios para a realização de uma cirurgia eletiva, muitas vezes de não especialistas, para a aquisição do corpo ideal. Ademais, se a amostra deste estudo se mostrou sensível às mensagens midiáticas que apelam ao corpo ideal, esse mesmo canal poderia ser usado para a promoção de uma aceitação maior do corpo real, sendo esse um caminho possível para uma intervenção de massa.
Já há uma iniciativa na indústria privada, a exemplo da companhia multinacional que encabeça a “campanha pela real beleza”, dirigida para mulheres, que foi alvo de estudos científicos. Entretanto, a campanha não se foca nos homens, e nem especificamente esclarece os riscos da cirurgia plástica estética, de forma que há carência de ampliação dessas ações, por órgãos federais ou mesmo pela iniciativa privada.

CONCLUSÕES

Neste estudo, a diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres acerca da aceitação da cirurgia plástica estética versa apenas sobre os riscos e dores do procedimento, sendo as mulheres mais predispostas a correr riscos e suportar dores. As correlações significativas com a internalização da mídia apontam para a importância desse veículo na disseminação dos ideais de beleza, estando mais associados à cirurgia plástica estética que outros fatores psicossociais, como satisfação com a vida e percepção de segurança financeira.

AGRADECIMENTOS

A autora ANNBC agradece ao Conselho Nacional de De – senvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela bolsa de doutorado concedida (Processo número 140174/2009-5).

REFERÊNCIAS

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Práctica del autoexamen de mamas por usuarias del sistema único de salud de Ceará

Colaboración extranjera
Universidad Federal de Ceará Ceará, Brasil.

Lic. Ana Fátima Carvalho Fernández, Mariza Silva de Oliveira y Escolástica Rejane Ferreira Moura.

RESUMEN.

Con el objetivo de verificar el conocimiento de las mujeres acerca del autoexamen de mamas y su importancia en la detección precoz del cáncer, así como analizar su práctica e identificar los motivos de su no realización; se realizó un estudio descriptivo y exploratorio en el período de enero a marzo de 2004. Se aplicó en tres unidades de salud de Ceará, se incluyó dos de la capital y una del interior. Se entrevistó 60 mujeres usuarias de los respectivos servicios y los datos se analizaron a partir de la estadística descriptiva. Los resultados mostraron que el 65% de las entrevistadas no conocían el autoexamen de mamas, el 55% de las mujeres consideraron hacérselo en algún momento, el 45% de ellas no se realizaron el autoexamen y los motivos fueron desconocimiento y olvido, entre otros. Se consideró que la realización de actividades encaminadas a mejorar la adhesión de las mujeres al autoexamen es necesaria en el contexto de los servicios estudiados, además de promover mecanismos capaces de motivar al cliente al autocuidado.

El cáncer de mama representa en la actualidad uno de los mayores problemas de salud pública en el mundo, siendo en términos epidemiológicos, la neoplasia maligna que más se diagnóstica y la mayor causa de mortalidad por cáncer en el sexo femenino. Su incidencia ha aumentado considerablemente en las últimas décadas, se estima que para el año 2010 habrá 1 450 000 casos nuevos; lo que significa un aumento del 82% en relación con lo que se estimó en 1990. Esa realidad que se repite en el Brasil, afecta a mujeres cada vez más jóvenes, con una edad por debajo de los 40 años; motivo que preocupa grandemente a los especialistas del área.

Según lo estimado en el Instituto Nacional del Cáncer (INCA), ocurrió en el 2005 una cantidad de 49 470 casos nuevos con cáncer de mama, que se correspondió a un índice bruto de incidencia de 52,93 por cada 100 000 mujeres. Para Ceará los datos indican el surgimiento de 1 430 nuevos casos en todo el estado, siendo 670 solamente en la capital y 760 en los demás municipios, lo que corresponde a una de incidencias de 34,55 y 53,82 por cada 100 000 mujeres respectivamente.

La sobre vida media de las mujeres afectadas por el cáncer de mama no tratado, establece una correlación directa entre la sobre vida y el estado patológico de la dolencia. El diagnóstico precoz es, por tanto, una garantía importante del éxito en el tratamiento del cáncer de mama. En ese sentido, la mujer presta una relevante contribución al realizarse el auto-examen de las mamas (AEM) mensualmente, por su capacidad de reconocer lo que es normal por la repetición sucesiva de la palpación de su mama, lo que hace más probable la detección de alteraciones.

Los profesionales del área afirman que el perfil cultural de la mujer cearense, por ejemplo, está cargado de tabúes religiosos y de desconocimiento del propio cuerpo, lo que hace que la mayoría sólo busque servicios de salud en la fase avanzada de la dolencia, en que las medidas terapéuticas tienen menos impacto y son más rutilantes. Esa realidad fue comprobado en el Servicio de Mastología de la Universidad Federal de Ceará, en el período de julio de 2000 a julio de 2001, que cerca del 55% de la clientela buscó asistencia en esta área de atención, ya que presentaban cáncer de mama en estadio avanzado; situación que pudiera, sin dudas, evitarse.

A pesar de ser una enfermedad detectable en la fase inicial, pocas son las mujeres que interiorizan la importancia de la detección precoz por la falta de orientación y dificultad del acceso a los servicios de salud, donde se desarrollan acciones en el campo de la prevención primaria y secundaria. Respecto a eso, los especialistas del área enfatizan que la práctica oncológica en Brasil tiene un gran peso terapéutico.
La asociación directa del nivel socioeconómico y el acceso a las referidas conductas de prevención, constituye sin dudas, una prueba de que el acceso a los cuidados de salud no es universal y que entra en contradicción con preceptos básicos asegurados en la constitución brasileña.

Para algunas mujeres, el miedo del descubrimiento del nódulo, la vergüenza de ser tocada por profesionales o por ella misma, se convierte el principal factor para la no realización del AEM. De todos modos, diseminar acciones de detección y ampliar el acceso de la población a las acciones primarias de salud, representa una importante estrategia para revertir tal realidad; teniendo en cuenta, que el tumor de mama en más del 80% de los casos es diagnosticado por las propias mujeres.

De esa forma, la morbilidad y la mortalidad por cáncer de mama pueden reducirse si las mujeres tienen el conocimiento, la motivación y la destreza necesaria para aplicar medidas de detección precoz, como es el AEM. El referido cuidado debe ser iniciado en la adolescencia mensualmente y durante el resto de la vida, preferiblemente una semana después de la menstruación.

En la postmenopausia, el AEM se recomienda que debe ser practicado en un día fijo del mes para evitar su olvido. Frente a esa realidad, la práctica de enfermería pautada en la calidad del cuidado brindado y en poder de sus intervenciones, reconoce como atribuciones del enfermero que trabaja con la comunidad; asumir el papel de responsable por la salud de la población adscripta, realizar labor de orientación adecuada y asegura el AEM.

La diseminación de la información en materia de salud, a través de campañas y otros medios de concientización de la población, que contempla la orientación sobre el AEM, se vuelve indispensable tanto para promover la detección de la dolencia en el estado inicial, como para desarrollar acciones preventivas y terapéuticas focalizadas en la salud de la mujer.
Frente a lo expuesto, se plantearon preguntas tales como: ¿tienen las mujeres conocimiento del AEM? ¿Consideran el examen importante en la detección precoz del cáncer de mama? ¿Cuál es la frecuencia de realización del AEM por parte de esas mujeres? ¿Cuáles motivos llevan a esas mujeres a la no realización del AEM? La automotivación en lo que concierne a la obtención de respuestas para esas preguntas, llevó a la decisión de realizar el presente estudio con el objetivo de verificar el conocimiento de las mujeres sobre el AEM y su importancia en la detección precoz del cáncer de mama, así como analizar la práctica del AEM e identificar los motivos de su no realización.

MÉTODOS

Se realizó un estudio descriptivo y exploratorio con el enfoque principal de determinar los rasgos, características y problemas del individuo, grupo o comunidad; además de aumentar la experiencia del que realiza la pesquisa con relación al AEM.

El estudio se desarrolló en tres servicios públicos de salud de Ceará, que ofrecen acciones de detección precoz del cáncer de mama, de ellos dos están localizados en la capital y uno en el interior del estado. Para caracterizar a las tres unidades, se estableció la unidad del interior como I y las unidades de la capital como C1 y C2.

De esos servicios dos son de atención secundaria y uno de atención primaria, y dos atienden por libre demanda y uno por sistema de referencia. En cuanto a los equipos de trabajo, la unidad I estuvo compuesta por médicos, enfermeras y un auxiliar de enfermería; la unidad C1 estaba integrada por médicos y enfermeras entrenadas para ejercer acciones de control y detección precoz del cáncer de mama; mientras que la unidad C2 estaba representada por médicos y enfermeras, que algunos contaban con entrenamiento.
En cuanto a la detección precoz del cáncer de mama, en la unidad I se realizó por las enfermeras; en la unidad C1 por los médicos, enfermera y los asistentes sociales; mientras que en la unidad C2 se efectuó por el médico y las enfermeras. En la unidad I la detección fue mediante el examen clínico, en la unidad C1 mediante mamografías, ultrasonidos y el examen clínico, y en la unidad C2 se detectó por la punción de biopsia por aguja, mamografías y el examen clínico.

La muestra estuvo constituida por 60 mujeres que formaron parte de la demanda de atención de los tres servicios encuestados y que fueron seleccionadas a participar en el estudio por conveniencia y por su disponibilidad.

Los datos fueron recolectados entre los meses de enero y marzo de 2004. La recolección se inició con la observación de la rutina de la unidad, en cuanto a la atención y al perfil de los servicios prestados. Posteriormente se dio inicio a la fase de entrevista. El instrumento de investigación correspondió a un guión de entrevista estructurado, con preguntas abiertas y cerradas que se correspondían con los objetivos del estudio, los que fueron viabilizados mediante la autorización previa de las participantes.
Se garantizó el acuerdo de consentimiento libre e informado.

El proyecto de pesquisa contó con la aprobación del Comité de Ética y Pesquisa de la Universidad Federal de Ceará, atendiendo a los aspectos éticos recomendados en la resolución No. 196/96, que trata de las pesquisas que involucran a seres humanos.10 Se autorizó la inserción de la entrevistadora en la muestra del estudio, tras una solicitud hecha por medio de cartas dirigidas a la dirección de la institución.
Posteriormente se reclutó a las mujeres y estas fueron informadas acerca de la relevancia y los objetivos del estudio; además de que su participación era voluntaria, con garantía de anonimato y de que podrían desvincularse del estudio, si así fuera su deseo.

Se procedió al análisis estadístico y a su interpretación de los datos clave de los informantes. Los datos fueron organizados en el programa Microsoft Excel 2000, y se expresaron en gráficos, con presentación de frecuencias simples y porcentajes.

RESULTADOS

El rango de edad de las entrevistadas osciló entre 17 y 76 años de edad. Se analizó el nivel escolar que tenían las pacientes; se observó que 32 casos (53.3%) tenían cursada la enseñanza elemental, 17 casos (28,3 %) la enseñanza media, 9 casos (15 %) eran analfabetas y 2 casos (3,4 %) habían concluido la enseñanza superior. Con relación a sus creencias, se estimó que 50 casos (83,3 %) eran católicas, 4 casos (6,7 %) informó no profesar ninguna religión, 3 casos (5 %) eran espiritistas y con igual número eran evangélicas.

En lo que concierne al estado civil y ocupación, se constató que 35 casos (58,3 %) eran casadas, 12 casos (20 %) estaban solteras, 8 casos (13,4%) separadas y 5 casos (8,3%) eran viudas. En cuanto a la ocupación 32 casos (52,2 %) eran ama de casa y 22 casos (36,7%) ejercían alguna actividad fuera del hogar como costurera, dependienta o vendedora, solamente 6 casos (10 %) estudiaban.

En la fig.1 se representó la distribución de las mujeres según el nivel de conocimiento sobre el AEM y la importancia de la detección precoz del cáncer de mama, se observó que de las 60 mujeres entrevistadas, 39 casos (65 %) refirieron no poseer conocimiento alguno. En cuanto a la importancia de la detección precoz del cáncer de mama, 41 casos (68 %) lo reconocieron como una medida importante.

Fig.1. Distribución de las mujeres en cuanto al nivel de conocimiento acerca del AEM y la importancia de este en la detección del cáncer.

Se analizó la frecuencia de la realización del AEM en las mujeres (fig.2), se estimó que 27 casos (45%) no se realizaron el AEM. Mientras que de los 33 casos (55 %) que lo aplicaron, 17 casos (52 %) se lo hacían en un período mensual, 11 casos (33 %) no mantenían una frecuencia regular y respondieron que se lo hacían cuando se acordaban o cuando veían algún material de televisión, y 5 casos (15 %) sólo se preocupaban en hacérselo una vez al año.

Fig.2. Distribución en cuanto a la realización y frecuencia del AEM .

En la fig.3 se muestran las maniobras que se realizaron las mujeres durante el AEM, donde se constató que de las 33 mujeres que se realizaron el examen, 25 casos (76 %) ejecutaron solamente la palpación, 4 casos (12 %) realizaron inspección y palpación, y con igual número de casos se realizaron las tres maniobras, inspección, palpación y observación.

Fig.3. Distribución de las mujeres de acuerdo con las maniobras aplicadas durante el AEM.

Se analizaron los motivos de las 27 mujeres que no se realizaron el AEM (fig.4), se estimó que 14 casos (52 %) desconocían totalmente el tema acerca del asunto, mientras que 7 casos (26 %) se les olvido, 3 casos (11%) refirieron miedo de encontrar alguna anomalía y 1 caso (4 %) por falta de tiempo.

Fig.4. Distribución de las mujeres según los motivos por que no se realizan el AEM.

DISCUSIÓN

Aunque existan muchas publicaciones que abordan el tema sobre el cáncer de mama y el AEM, algunos no citan las cuestiones pertinentes y relacionadas intrínsecamente con los motivos de la no realización.

Otras investigaciones en la misma región, con una muestra de 141 mujeres mostraron que el 44,7 % desconocían el AEM. Se consideró en el estudio, bastante elevado el porcentaje de mujeres que refirió no poseer conocimiento alguno acerca del AEM, con una incidencia mucho mayor (65 %).

Aunque la mayoría de los casos reconoció la importancia del examen para la detección precoz del cáncer de mama, dado que poseen informaciones significativas sobre los beneficios para la identificación de las alteraciones mamarias, dando margen a la implementación rápida de medidas terapéuticas capaces de evitar mutilaciones y procedimientos más invasivos.

Pocas mujeres refirieron realizarse el AEM y de ellas se analizó las tres maniobras que contemplaron en el examen: inspección, palpación y observación; lo que viene a corroborar estudios anteriores que muestran que el grado de escolaridad influye notablemente en la práctica adecuada del AEM. De ahí que más de la mitad de las entrevistadas que se realizaron el AEM completo y mensualmente, poseían por lo menos enseñanza media incompleta, y en relación con aquellas que no se lo realizaron, más de la mitad tenían hasta la enseñanza elemental terminada.

Aunque muchas mujeres no se realizaron el AEM por desconocimiento, es importante destacar que sólo el hecho de transmitir la información no es suficiente para que se produzcan cambios en el comportamiento; ya que la práctica del AEM depende de la decisión de la cliente, a partir de la comprensión e interpretación de la posibilidad de prevenir la dolencia y de ser responsable por su salud.

A pesar de que algunas mujeres relaten tener conocimiento acerca de la importancia de la detección precoz del cáncer de mama, sus declaraciones estaban perneadas de sentimientos de miedo respecto al tratamiento, al pronóstico y a la posibilidad de cura. La ansiedad, el miedo, la inseguridad y el desconocimiento generan resistencia a la realización del AEM, afectando el diagnóstico precoz de las alteraciones que tienen una evolución rápida y silenciosa. El miedo es una fuerza incontrolable que cada uno trae dentro de sí y existe por insuficiencia de ideas firmes, o sea, por alguna inseguridad. La ansiedad es referida como una reacción común cuando las personas encuentran nuevos problemas y no saben qué esperar sobre su destino.

La constatación de que casi la mitad de las entrevistadas no se realizaban el AEM, expresa que hay falta de preparación por parte de las mujeres con relación a un procedimiento tan simple y que pudiera prevenir consecuencias mayores; pues la frecuencia de la realización del AEM, influye directamente en la precisión del mismo.11 El estudio realizado con 879 mujeres de la región sur de Brasil, mostró significativa adhesión de estas al AEM, o sea, que el 83,5 % de las mujeres se realizó el AEM y el 80,4 % por lo menos lo aplicaba una vez al mes. Contrario a esa realidad, esta baja adhesión de las mujeres al AEM viene al encuentro de la preocupación del Ministerio de Salud con el hecho de que el 80 % de los tumores de mama son descubiertos, por la propia mujer al palpar incidentalmente sus mamas. Por tanto, si no se tiene la información la mujer no se realiza el examen.

En algunas regiones de Brasil el 55% de las mujeres se realizan el AEM, de ellas el 15% se lo aplican anualmente y el 33 % de manera irregular, con amplios intervalos. Por tanto, existe la necesidad de desarrollar un abordaje más completo por parte de los profesionales que lidian con esa área de atención, en el sentido de preparar a las mujeres a través de prácticas efectivas de educación en salud, llevándolas a la adopción de ese cuidado.

Estos resultados corroboran la afirmación de que existe la necesidad, cada vez mayor, de fortalecer los programas de salud dirigidos a la mujer, en lo que se refiere al conocimiento de su cuerpo, principalmente el AEM; que constituye de ese modo el sustento para las reflexiones del profesional de la salud acerca de esa técnica. Se deben crear condiciones para el redireccionamiento de una práctica profesional más humana en el sentido de la forma de enseñar y asistir a la mujer.

Para que la práctica del AEM consiga alcanzar su objetivo de detección precoz del cáncer de mama y como consecuencia la reducción de la mortalidad, deben acometerse campañas alusivas al tema para que la población esté mejor informada respecto a la técnica y a la importancia del autocuidado. Concomitantemente, es fundamental el incentivo en el área educativa para que esas informaciones se incorporen al comportamiento de la mujer.

Partiendo del principio de que una promoción de la salud y la prevención de las enfermedades son importantes para la conservación de una vida saludable, la educación en salud mediante actividades que involucren al AEM son indispensables para minimizar la aparición de la dolencia en estadio avanzado. De igual modo, son esenciales las inversiones en programas educativos y en la atención primaria que incluyen acciones de detección precoz del cáncer de mama y donde las acciones educacionales son implementadas en el ámbito de los servicios de salud. Se debe fortalecer la relación profesional-cliente y promover una mayor comprensión de las informaciones ofrecidas en la consulta. A partir de las propuestas emanadas del Ministerio de Salud, el Instituto Nacional de Cáncer ha implementado acciones, planes y programas orientados al control del cáncer de mama; que incluyen el mejoramiento y expansión de la red especializada de asistencia médico-hospitalaria, actividades de detección precoz de la enfermedad y medidas de prevención, que comprenden acciones de promoción para la salud y de intervención sobre los factores de riesgo.

La comprensión del proceso salud-enfermedad y de los recursos disponibles para la detección precoz del cáncer de mama, debe ser preocupación de las mujeres, de los gestores y de la comunidad científica en un compartimiento de responsabilidad.

En ese contexto el AEM es el método más práctico que debe ser realizado por la propia mujer en un tiempo y en condiciones regulares. Asimismo, el AEM es el menos costoso y más eficaz de todos, si es practicado regular y adecuadamente. Para que las mujeres detecten precozmente el cáncer de mama, es preciso que haya una mayor concientización en lo que se refiere a los beneficios del AEM y que se involucren los profesionales de la salud, para que de este modo estimulen y enseñen su realización; de esa forma se optimiza las oportunidades de contrato con tales clientes.
A partir de los resultados, se percibió que las mujeres entrevistadas tenían un conocimiento incipiente en cuanto al AEM, haciendo necesario la implementación de medidas que promuevan su adhesión a esa práctica de manera segura y sistemática.

El déficit de conocimiento y de autocuidado son aspectos que deben ser mejor trabajados y enfatizados entre las mujeres, con el objetivo de ayudarlas a asumir un papel más activo en el cuidado de su salud. Los motivos referidos por las mujeres para la no realización del AEM demostraron la necesidad de desmitificar el examen y vencer barreras culturales, proporcionando transformaciones en el estilo de vida, al punto de que ellas puedan ejercer el autoconocimiento y el autocuidado sin restricciones. A pesar de las limitaciones, la realidad exige la planificación de estrategias que aborden la detección precoz. Por tanto, es fundamental que existan mecanismos capaces de motivar al cliente para el autocuidado de la salud; dedicándose inclusive, a buscar en la red de servicios los medios disponibles para satisfacer sus necesidades. Es necesario para enfrentar tal desafío, la asignación de recursos y la capacidad de personal para hacer viable el diagnóstico precoz mediante la práctica sistemática del AEM.

SUMMARY

Practice of the breast self-examination by the female users of the unique health system of Ceará

A descriptive and exploratory study was conducted from January to March, 2004, aimed at verifying the knowldedge of women about the breast self-examination, and its importance in the early detection of cancer, as well as at analyzing its practice and the reasons not to perform it. It was applied in three health units of Ceará, including two of the capital, and one of the interior. 60 women that were users of the respective services were interviewed and data were analyzed starting from descriptive statistics. The results showed that 65 % of the interviewed did not know the breast self-examination, whereas 55 % considered to do it sometime. 45 % of them did not practice self-examination and the reasons were ignorance or forgetfulness, among others. It was considered that carrying out activities directed to improve the adhesion of women to self-examination is necessary in the context of the studied services, in addition to promote mechanisms capable to motivate the client to self-care.

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Recibido: 3 de marzo de 2006
Aprobado: 17 de marzo de 2006

Ana Fátima Carvalho Fernández
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